Em 2024, celebram-se 50 anos das Relações Diplomáticas. Porém, a relação é muito mais antiga. Registros históricos mostram que a primeira missão diplomática brasileira à China ocorreu em 18 de junho de 1880. Entre os enviados extraordinários estavam o diplomata Eduardo Callado e o contra-almirante Arthur Silveira da Motta, que seria posteriormente reconhecido como o primeiro embaixador brasileiro no país.
Eles fazia parte da viagem comissionada pelo imperador Dom Pedro II, e viajaram a bordo do navio “Vital de Oliveira”. A primeira circum-navegação partiu do Rio de Janeiro em 19 de novembro de 1879 e regressou após 430 dias, em 21 de janeiro de 1881.
De lá para cá muita coisa mudou. O Brasil tornou-se uma República em 1889, algo que só ocorreria com a China em 1912, com o fim da Dinastia Imperial Qing. Pouco mais de três décadas depois, o país asiático passou por uma grande transformação. Em 1º de outubro de 1949, Mao Zedong proclamou o início da República Popular da China.
A mudança de regime fez com que vários países rompessem relações diplomáticas com os chineses, incluindo o Brasil. Conforme explica o embaixador Francisco Mauro Brasil de Holanda:
“A política de alargamento de parceiros comerciais e de aumento do prestígio internacional do país fez que, durante a presidência de Jânio Quadros, o Brasil aproximasse-se da China. Em agosto de 1961, o Vice-Presidente João Goulart visitou a China, tornando-se o primeiro governante brasileiro a realizar uma visita oficial ao país”,
A retomada oficial das relações, porém, foi oficializada somente em 15 de agosto de 1974. O cenário mundial estava mudando e tanto o governo brasileiro quanto o chinês tinham interesse de normalizar os laços históricos.
15 de agosto de 1974: um novo capítulo
Em reunião no Palácio do Itamaraty, em Brasília, no dia 15 de agosto de 1974, o chanceler Azeredo da Silveira e o vice-ministro do Comércio chinês, Chen Chien formalizaram o início de uma nova era das relações bilaterais.
A reportagem do jornal Folha de São Paulo sobre o evento registra que “a cerimônia foi simples: leitura (em português e em chinês) do comunicado conjunto” que dizia:
“Os dois governos concordam em desenvolver as relações amistosas entre os dois países com base nos princípios de respeito recíproco à soberania e à integridade territorial, não-agressão, não-intervenção nos assuntos internos de um dos países por parte do outro, igualmente e vantagens mútuas e coexistência pacífica. O governo da República Federativa do Brasil e o governo da República Popular da China concordam em trocar embaixadores dentro do mais breve prazo possível e em prestar um ao outro toda a assistência necessária para a instalação e funcionamento das embaixadas em suas respectivas capitais”.
Também foi assinado um novo acordo comercial, que incluía a exportação de minério de ferro, algodão, soja e celulose do Brasil para a China, enquanto o país asiático venderia minerais não ferrosos, artesanato, petróleo e carvão.
Em 1975, foram abertas as Embaixadas do Brasil em Beijing e da China em Brasília. O primeiro embaixador brasileiro no país asiático foi Aluízio Napoleão de Freitas Rêgo, Por sua vez, o governo chinês designou Chang The-Chun como embaixador.
Atualmente, o Brasil tem consulados-gerais em Shangai, Guangzhou (Cantão) e Hong Kong, enquanto a China possui consulados-gerais em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Cinquentenário das Relações
Cinco décadas atrás, poucos analistas conseguiam antever a dimensão atual da parceria sino-brasileira.
De fato, as relações bilaterais têm-se caracterizado por um crescimento extraordinário. Por exemplo, em 2006, Brasil e China se aliaram na formação do BRICS, ao lado de Rússia, Índia e África do Sul. O bloco tem o objetivo declarado uma vertente dupla. A agenda interna aborda temáticas relacionadas à cooperação, crescimento econômico e desenvolvimento social, enquanto a agenda externa contempla pautas referentes ao comércio, meio ambiente, segurança e pobreza.
Além disso, houve um aumento exponencial do comércio sino-brasileiro. Em 2009, a China se consolidou como maior parceiro comercial do país. Naquele ano, a corrente de comércio bilateral China somou US$ 36,1 bilhões. Ela cresce a cada ano, sendo que, em 2023, chegou a US$ 105,7 bilhões, um terço de todo o comércio exterior do Brasil.
Ao mesmo tempo, Brasil e China têm mantido diálogo também em outros mecanismos como G20, Organização Mundial do Comércio (OMC) e BASIC (articulação entre Brasil, África do Sul, Índia e China na área do meio ambiente).
Conforme o site do Itamaraty “as relações têm sido caracterizadas por laços comerciais e cooperação em diversas áreas. Os dois países têm se aproximado em áreas como ciência e tecnologia, cooperação, comércio, investimentos e concertação política”.