Milton Pomar, consultor para as relações Brasil-China, escritor e palestrante, participou do Salão Internacional de Alimentação, em Shanghai, uma feira de alimentos orgânicos em Guangzhou. Durante a sua estadia no país, concedeu uma entrevista ao Diário do Povo Online.
Com 65 anos de idade, ele conta que pertence a uma família cujo assunto “China” foi e continua a ser uma constante ao longo da vida. Seu avô, Pedro Pomar, foi deputado federal e visitou a China em 1956, sendo recebido em audiência pelo então primeiro-ministro Zhou Enlai.
O pai, Wladimir Pomar, além de ter organizado uma viagem da comitiva oficial do Brasil à China, em 1984, manteve-se ligado às relações bilaterais ao longo de sua vida.
São “60 anos convivendo com o assunto China. Conversando sobre a China, conversando sobre os seus líderes, conversando sobre o povo chinês”, afirma.
Passados quase 30 anos desde pisar o solo chinês pela primeira vez, em 1997, várias mudanças ocorreram. Pomar confessa que o mais o impressionou inicialmente foi a quantidade de bicicletas nas ruas da capital: “Beijing tinha muita bicicleta… Eu tinha até medo de ser atropelado por bicicleta!”, afirma, entre risos, constatando que o principal meio de transporte de então, foi entretanto substituído pelo automóvel e pelas motas elétricas.
“É um detalhe, mas acho que é um detalhe significativo porque é uma mudança cultural importante”, afirma.
“Tem poucas províncias que eu ainda não fui. Eu fui muito no interior, capitais, cidade grande, cidade pequena… sempre observando muito”, refere, salientando a “mudança de padrão de vida, de poder aquisitivo, de consumo”.
Ao longo das várias estadias no país que totalizam cerca de 3 anos, a evolução ao nível dos padrões de consumo e a construção de infraestruturas são outros dos fenômenos que merecem destaque.
“Quem vem aqui, fica num hotel, vai numa feira e volta, não tem noção do que é a China. Quando a gente viaja bastante, pega trem e, no trem, você vai passando, vai vendo os viadutos, as pontes, é muito impressionante”, exclama.
Entre os vários âmbitos onde o Brasil e a China podem cooperar e aprender mutuamente, Milton Pomar destaca a conquista da China ao nível da erradicação da pobreza, um esforço que descreve como a “inclusão das pessoas na economia real”.
“Eu fico impressionado como a mídia mundial faz como se isso não tivesse acontecido. Os dados estão aí, é banco mundial, é FMI, não é a mais a China falando… São instituições internacionais. São 800 milhões de pessoas e é como se fossem talvez 8 ou 10”, sublinha.
No Brasil, entre várias atividades profissionais, o entrevistado ministra cursos e divulga conteúdos, livros e palestras sobre a China, sendo que é na área cultural que “temos uma possibilidade muito grande, porque envolve juventude, envolve alegria, envolve a questão humana”.
“Do ponto de vista cultural, eu sempre digo: ‘A China é um outro planeta’. Você não pode se relacionar com a China sem estudar a China. Tem que estudar”, assegura.
“De alguns anos para cá, na área acadêmica houve um boom. Muita gente estudando China. Eu mesmo tenho sido demandado… virou uma loucura. Tem cursos online sobre China com 2000 pessoas assistindo. É gratificante. Ao mesmo tempo, é muito significativo porque houve realmente um ‘clique'”, afirma, aludindo também aos esforços por parte dos Institutos Confúcio junto da sociedade brasileira.
O seu mais recente projeto, prestes a ser concluído, é um livro de fotografia sobre a cultura chinesa – “Imagens da Cultura Chinesa”.
“A ideia é fazer uma espécie de guia, só que com fotos. Porque hoje as pessoas leem pouco. Principalmente para os jovens”, diz, em tom bem-humorado.
Uma versão em mandarim, sobre cultura brasileira, está também nos planos para o futuro.
O ano de 2024 marca o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas Brasil-China. Milton Pomar diz que a Iniciativa de Civilização Global proposta pelo presidente Xi Jinping, é um marco do respeito pela diversidade das civilizações mundiais e a promoção do intercâmbio e da aprendizagem mútua.
“É algo muito positivo… As pessoas começam a entender o seguinte: tem outros caminhos. Tem outras possibilidades. A China é um exemplo de que algumas coisas podem dar certo de maneira diferente”.
As informações são do Diário do Povo