Por Marcus Vinícius Freitas*

Deve-se reconhecer que o processo de ascensão da China, nos últimos quarenta anos, levou o país a um nível de desenvolvimento econômico e social sem precedentes na sua história, gerando o maior processo de inclusão social e redução de pobreza da história da humanidade. A China, que enfrentava nas décadas de 1960 e 1970 os desafios de uma economia em desenvolvimento, alcançou, num espaço relativamente curto de tempo, a segunda posição como maior economia global e a primeira no ranking que mede paridade do poder de compra. Conhecido como fabricante de produtos de baixa qualidade, o país atualmente produz produtos e equipamentos da mais elevada tecnologia e qualidade. Essa revolução econômica alterou a matriz produtora do país e alçou a China a um patamar de desenvolvimento altamente competitivo.

Este processo é resultado de um investimento substancial do país em educação. Durante as últimas três décadas, além de aumentar o alcance da educação básica e intermediária, a China viu aumentar o número de estudantes chineses no exterior, transformando-se no país com mais estudantes internacionais em todo o mundo. O sistema educacional chinês modernizou-se e tornou-se o primeiro do mundo, com o maior número de matriculados na história da humanidade.

O rápido crescimento afetou toda a estrutura do sistema educacional chinês, dividido em três categorias: básica, superior e de adultos.

No caso da educação básica, cada criança deve, por determinação legal, ter escolaridade obrigatório de um período de nove anos. Isso inclui a escola primária, com duração de seis anos, e o ensino médio, de três. Além disso, existe o período pré-escolar de, geralmente, três anos.

O ensino médio tem duas vertentes: o ensino médio acadêmico e o ensino médio especializado/profissional/técnico. O acadêmico consiste em escolas primárias (três anos) e secundárias (três anos). Os graduados da escola secundária que desejam continuar seus estudos fazem um exame de admissão administrado localmente. Com isso, terão a opção de continuar em uma escola secundária acadêmica ou entrar em uma escola profissionalizante para receber de dois a quatro anos de treinamento. Também podem optar em sair da escola neste momento.

Os graduados do ensino médio que desejam ir para as universidades precisam fazer o Exame Nacional de Admissão ao Ensino Superior (Gao Kao). De acordo com o Ministério da Educação chinês, em junho de 2015, 9,42 milhões de alunos fizeram o exame.

O ensino superior universitário é dividido em duas categorias: cursos de graduação de quatro ou cinco anos para conceder qualificações de grau acadêmico; ou cursos de três anos em disciplinas acadêmicas e vocacionais. Programas de pós-graduação e doutorado são oferecidos apenas em universidades.

Educação de adultos

A educação de adultos abrange desde o ensino fundamental até o ensino superior. Por exemplo, adultos podem estudar em Escolas Primárias de Trabalhadores ou Escolas Primárias de Camponeses, que fazem parte do esforço para elevar o nível de alfabetização em áreas remotas. Existem também escolas secundárias especializadas para adultos. O ensino superior de adultos inclui universidades tradicionais com aulas via rádio/TV/online. Também há a opção de cursos regulares de graduação.

A presença de um grande número de estudantes chineses em campi universitários nos países ocidentais é um fenômeno que parece onipresente. Há três vezes mais estudantes chineses matriculados internacionalmente que os oriundos da Índia, segundo maior país emissor. As despesas e taxas de ensino pagas por esses alunos tornaram-se um fator econômico cada vez mais importante para as universidades e economias locais em países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Na Austrália, por exemplo, 30% de todos os estudantes internacionais em 2017 eram chineses.

O sistema educacional da China passou por uma expansão e modernização sem precedentes. Atualmente é o maior sistema educacional do mundo, considerando que o número de alunos do ensino superior cresceu 600%. Eram apenas 7,4 milhões em 2000 em comparação com 45 milhões em 2018, enquanto a taxa bruta de matrícula (GER) do país aumentou de 7,6% para 50%. A GER média atual é de de 75% em países de alta renda, segundo a UNESCO. Portanto, pode-se concluir que a China já alcançou a participação universal no ensino superior.

A China agora está treinando mais alunos de doutorado que os Estados Unidos. Outro número chama a atenção: em 2018, o número de artigos científicos, técnicos e de pesquisa médica publicados por pesquisadores chineses excedeu pela primeira vez os produzidos por acadêmicos norte-americanos. A China atualmente gasta mais em pesquisa e desenvolvimento que todos os países da União Europeia juntos, e em breve deverá ultrapassar os norte-americanos em gastos com pesquisa.

As instituições de ensino superior (IES) chinesas formam cerca de 8 milhões de alunos anualmente. O número é maior que a soma de graduados dos EUA e da Índia. A previsão é que  esse número cresça mais 300% até 2030. Desnecessário dizer que essa massificação do ensino superior foi acompanhada por um crescimento exponencial no número de IES. A BBC relatou, em 2016, que uma nova universidade abre as portas na China a cada semana. Ao todo, a China conta com 514.000 instituições educacionais e 270 milhões de alunos matriculados em todos os níveis de ensino.

* Marcus Vinícius Freitas é bacharel em Direito pela USP, com mestrados em Direito (LL.M.) pela Cornell University (Nova York) e Economia e Relações Internacionais (M.A.) pela  Johns Hopkins University School of Advanced International Studies – SAIS (Washington, DC).
Atualmente é professor visitante na Universidade de Relações Exteriores da China (China Foreign Affairs University) e também senior fellow do Policy Center for the New South (Rabat, Marrocos).

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