O arquiteto chinês Liu Jiakun foi anunciado como o vencedor do Prêmio Pritzker de Arquitetura de 2025. Trata-se da mais alta distinção na área. Fundador do Jiakun Architects, ele se destaca por integrar elementos tradicionais chineses ao design contemporâneo e por seu compromisso com a equidade social.
Nascido em Chengdu, China, onde ainda reside e trabalha, é o segundo arquiteto chinês a receber o prêmio, após Wang Shu, em 2012. A cerimônia de premiação foi realizada no Louvre Abu Dhabi.
A arquitetura de Liu Jiakun transcende estilos convencionais, adotando estratégias adaptativas que equilibram espaços coletivos e individuais. Sua abordagem busca empatia e conexão emocional com as comunidades, incorporando materiais locais e valorizando imperfeições para criar construções enraizadas em seu contexto cultural e histórico. Jiakun acredita que a arquitetura deve revelar e destilar as qualidades essenciais de um lugar e de seu povo, promovendo serenidade, compaixão e pertencimento.
Sobre Liu Jiakun
Formado em Engenharia em Arquitetura pela Universidade de Chongqing em 1982, Jiakun trabalhou na reconstrução da China pós-revolução e passou um período no Tibete (1984-1986). Em 1993, uma exposição de seu colega Tang Hua reavivou sua paixão pela arquitetura, levando-o a explorar expressões pessoais no design. Ele fundou seu escritório em 1999 e tem sido um escritor prolífico, abordando temas como utopia, experiência humana e narrativas no design em obras publicadas.
Sua filosofia é comparada à água: flexível, adaptável ao contexto e capaz de se integrar ao ambiente local. Ele rejeita a oposição entre história e modernidade, coletivismo e individualismo, utopia e realismo, criando espaços que harmonizam essas forças. Seu trabalho prioriza o bem-estar das pessoas e o fortalecimento das comunidades, respeitando o contexto social, cultural e histórico de cada projeto.
Principais trabalhos
O júri do Pritzker 2025 destacou sua capacidade de equilibrar tradição e modernidade, criar espaços de alta densidade sem sacrificar qualidade de vida e integrar arquitetura ao cotidiano das pessoas. Jiakun não segue um estilo fixo, mas adapta suas soluções às necessidades específicas de cada projeto, combinando conhecimento técnico com sabedoria prática.
Ao longo de quatro décadas, Jiakun projetou museus, centros culturais, edifícios acadêmicos e espaços urbanos. Seu trabalho foi exibido em mostras renomadas como a Bienal de Veneza e a Bienal Bi-City de Shenzhen-Hong Kong, e ele recebeu prêmios internacionais como o Far East Architecture Award e o UNESCO Asia-Pacific Heritage Award. Atualmente, leciona na Academia Central de Belas Artes e tem sido convidado para palestras no MIT e no Royal College of Art.
Sua abordagem tecnológica busca equilíbrio entre o artesanal e o industrial, valorizando métodos locais e materiais disponíveis. Desde seus primeiros projetos, Jiakun evitou soluções convencionais para criar uma arquitetura onde os materiais falam por si e envelhecem naturalmente, carregando a memória do tempo e do lugar.
Projetos como o Centro de Comunicação Cultural dos Três Templos de Songyang exemplificam essa abordagem, promovendo identidade e pertencimento. Ele explora a interação entre ideais utópicos e realidades cotidianas, transformando edifícios em narrativas que unem história, comunidade e experiência individual.
Jiakun também redefine o conceito de densidade urbana, provando que espaços abertos podem coexistir com alta ocupação. O Conjunto Xicun, em Chengdu, integra caminhos para pedestres e ciclistas, promovendo interação social. Já o edifício do Departamento de Escultura do Instituto de Belas Artes de Sichuan utiliza estruturas em balanço para otimizar o espaço. Sua abordagem contraria a tendência de segregação das cidades modernas, criando projetos multifuncionais que integram edifícios, infraestrutura, paisagem e espaços públicos. A autenticidade material é outro pilar de seu trabalho. Ele evita acabamentos refinados, preferindo materiais locais e reciclados.
Em projetos como o West Village, em Chengdu, ele redefine o conceito de espaço público e promove convivência comunitária. Seu trabalho evidencia que densidade urbana não precisa excluir abertura e flexibilidade. Ao reinventar paradigmas urbanos, Jiakun demonstra que a arquitetura pode ser ativada pelo uso de seus habitantes.
Ele também revisita a tradição chinesa sem nostalgia, utilizando-a como base para inovação. Em museus como o Suzhou Museum of Imperial Kiln Brick e o Shuijingfang Museum, ele transforma a arquitetura em registro histórico e espaço público. No Memorial Hu Huishan, ele ressignifica identidade ao unir memória coletiva e experiência individual.
Além disso, ele harmoniza arquitetura e natureza, criando paisagens dentro de paisagens. Projetos como o West Village e a renovação das Cavernas de Tianbao mostram sua habilidade em integrar espaços naturais e construídos, refletindo a tradição filosófica chinesa de equilíbrio entre o homem e o meio ambiente.