Artigo de Liu Yushu*
Nos últimos cinco anos, China e Brasil se uniram para continuar impulsionando o desenvolvimento da economia digital de maneira mais rápida. Olhando para o futuro, essa parceria cooperativa entre os dois países em áreas ligadas à economia aponta para um futuro brilhante.
A economia digital se tornou o motor mais importante do desenvolvimento econômico na China. Em 2021, chegou a 45,5 trilhões de yuans (R$ 34 trilhões), a segunda maior do mundo, de acordo com a Academia Chinesa de Tecnologia da Informação e Comunicação, um think tank estatal.
Em dezembro do ano passado, o número de usuários de internet na China atingiu 1,032 bilhão. Entre esses usuários, 99,7% têm o hábito de navegar na Internet pelo celular, sendo que 975 milhões assistem vídeos. Além disso, 842 milhões de chineses fazem compras online todos os dias, equivalente a quatro vezes a população brasileira.
O potencial de cooperação na economia digital entre China e Brasil é enorme. De acordo com estatísticas publicadas no tianyacha.com, portal chinês especializado em informações sobre entidades corporativas, o número de empresas chinesas que fazem negócios com o Brasil chegou a 348 em julho de 2022.
Aproximadamente 40% das empresas chinesas têm negócios com o Brasil principalmente nos setores de agricultura, silvicultura, pecuária e pesca. Em segundo lugar, com 26% são dos setores de atacado e varejo. Nos próximos anos, a cooperação entre China e Brasil no desenvolvimento da economia digital será concretizada em pelo menos quatro das principais áreas.
A cooperação em infraestrutura digital é um elemento essencial para a era da inteligência artificial. A indústria de inteligência artificial (IA) da China já ultrapassou 400 bilhões (R$300 bi) de yuan, enquanto mais de 3000 empresas têm a IA como seu principal negócio. Não é de surpreender, portanto, que a indústria de IA da China continuará se desenvolvendo rapidamente nos próximos anos. Atualmente, existem três áreas de infraestrutura digital na China que abriram perspectivas para uma cooperação de alta qualidade com o mundo.
A primeira são os serviços de computação. O poder computacional tornou-se o principal componente para impulsionar a produtividade na era da economia digital. Li Zhengmao, CEO da China Telecom, calcula que “cada yuan investido em aritmética produzirá um aumento de 3 a 4 yuans no crescimento do PIB”.
A segunda é a construção de sistemas de internet de alta velocidade, como 5G e 6G, entre outros. Nessa área, uma ampla cooperação também pode ser desenvolvida no futuro.
A terceira é o desenvolvimento conjunto de estruturas de Inteligência Artificial. Essa área terá um papel cada vez mais importante no futuro da digitalização. Atualmente, as estruturas de IA mais populares do mundo, como TensorFlow e Pytorch, pertencem aos Estados Unidos.Porém, as empresas de tecnologia chinesas desenvolveram suas próprias estruturas de IA, como a PaddlePaddle, da Baidu, que atualmente possui 4,06 milhões de desenvolvedores no ecossistema global e 157.000 usuários no setor público ou corporativo. A China e o Brasil podem, assim, engajar-se em ampla cooperação na área de infraestrutura de IA.
Cooperação na área de e-commerce e varejo online
Quando se trata de cooperação econômica entre China e Brasil, há um grande potencial para que cada vez mais empresas surjam e desenvolvam seus negócios. Especialmente em áreas como economia digital e varejo online, as parcerias entre os dois países não são mais limitadas por longas distâncias geográficas, apontando para perspectivas ilimitadas de cooperação futura.
Cooperação na área da educação
O Brasil pode ter subestimado o mercado de aprendizagem do português na China. Atualmente, o CELPE (certificado de proficiência em língua portuguesa para estrangeiros), emitido pelo Ministério da Educação (MEC), possui apenas um centro de exames no território chinês, mais especificamente na Universidade de Comunicação da China.
Cabe perguntar, então, qual a melhor forma de aproveitar esse mercado ainda inexplorado. Por exemplo, é possível aumentar o número de centros de exames para emissão do CELPE na China? É possível produzir e comercializar mais livros didáticos em português do Brasil para o mercado chinês? Ou as plataformas educacionais online brasileiras podem lançar mais cursos de aprendizagem da língua portuguesa direcionadas para o mercado chinês?
Todas essas são colaborações que podem ser iniciadas imediatamente. Essa aproximação entre China e o Brasil em outras áreas relacionadas à educação também seria muito desejável.
Cooperação no campo das artes e da cultura
Existem cerca de 30 milhões chineses entusiastas da dança latina. De acordo com tianyancha.com, em julho de 2022, havia mais de 2.500 instituições de ensino das danças latinas na China. O samba, por exemplo, tem uma boa base de mercado no país e perspectivas favoráveis para o desenvolvimento de mercado futuro.
Utilizando as redes sociais mais acessadas na China, um bom professor de dança conseguiria ter milhões ou até dezenas de milhões de espectadores interagindo com ele em apenas uma sessão de ensino de dança online. Especialmente quando se trata de dança relacionada a lições de fitness, o que indica, o enorme valor comercial potencial deste meio.
Se os professores de samba brasileiros irem à China para oferecer aulas de samba em redes sociais, também poderão aproveitar a oportunidade para se beneficiar comercialmente. Além do samba, a cooperação entre China e Brasil no campo da cultura e das artes pode ser bastante diversificada e produzir resultados frutíferos no futuro, se os dois lados fortalecerem a cooperação.
Olhando para o futuro, não há dúvidas que a cooperação no desenvolvimento da economia digital entre China e Brasil fará com que ambos se tornem estrelas brilhantes entre os países do BRICS, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
* Liu Yushu é diretor do Departamento de Pesquisa Macro do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China. Ele se dedica a pesquisas sobre IA, fintechs e o desenvolvimento da economia digital. Artigo publicado originalmente no China Daily.