Os BRICS não são um bloco econômico formal. Inicialmente, o grupo, que não incluía a África do Sul era chamado apenas de BRIC. O termo criado por um analista da Goldman Sachs em um artigo sobre economias emergentes em 2001, listando Brasil, Rússia, Índia e China.
De fato, representantes dessas nações se reuniu formalmente às margens da Assembleia Geral da ONU de 2006, em Nova York, iniciando os trabalhos do bloco.
A primeira cúpula dos BRICs aconteceu em 2009, na cidade de Ecaterinburgo, na Rússia. Dois anos mais tarde, durante a terceira cúpula, em Sanya (China), a África do Sul passou a fazer parte do bloco, adotando nome pelo qual passou a ser conhecido.
O diálogo entre os países se dá em três pilares principais: cooperação em política e segurança, cooperação financeira e econômica, e cooperação cultural e pessoal. Cerca de 150 reuniões são realizadas anualmente em torno desses pilares. O principal objetivo do bloco, por meio da cooperação, é alterar o sistema de governança global, com uma reforma de mecanismos como o Conselho de Segurança da ONU, além de introduzir alternativas às instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o fomento às economias emergentes, como é o caso do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento).
Durante a reunião dos Brics em Joanesburgo, entre os dias 22 e 24 de agosto de 2023, foi anunciado que seriam aceitos mais cinco membros: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. A formalização ocorreu em janeiro de 2024.
A proposta de expansão do Brics, vinha sendo tratada desde 2017 e sinalizou-se que seria incluído o ‘Plus’ ao nome, ficando então Brics+ ou Brics Plus.
BRICS em números
O Brics reúne uma população de 3,6 bilhões de habitantes, quase metade do total mundial. Esses países são responsáveis por mais de 40% da produção mundial de petróleo e por cerca de um quarto das exportações mundiais de mercadorias.
O Brasil tem um comércio intenso com os países do BRICS. Em 2023, o principal parceiro comercial do Brasil, a China comprou 90% de toda a exportação brasileira destinada aos BRICS, cerca de US$ 89,4 bilhões. A Índia importou 6,3% (cerca de US$ 6,3 bilhões), a Rússia foi destino de 2% das exportações (US$ 1,96 bilhão) e a África do Sul, de 1,7% (US$ 1,7 bilhão).
No sentido inverso, 78% das importações vindas do bloco foram de produtos chineses (US$ 60,7 bilhões), seguidos dos indianos (11% ou US$ 8,9 bilhões), russos (10%, US$ 7,9 bi) e sul-africanos (1,2% ou US$ 908 milhões).
Relações Brasil-China
O BRICS impulsionou significativamente a relação bilateral entre Brasil e China. Ao mesmo tempo que houve uma maior proximidade diplomática, potencializada pelo aumento de reuniões do bloco, a China se consolidou como o principal parceiro comercial do Brasil, enquanto o Brasil se tornou um importante fornecedor de commodities agrícolas e minerais para a China. Desde a criação do bloco em 2009, o volume de comércio entre os dois países quintuplicou, alcançando US$ 135,4 bilhões em 2023.
A cooperação entre Brasil e China se expandiu para além do comércio, abrangendo áreas como ciência e tecnologia, educação, cultura, segurança e defesa. É possível perceber que o BRICS serviu como plataforma para o estabelecimento de mecanismos de diálogo e colaboração em diversos setores, promovendo o compartilhamento de conhecimento e expertise entre os países membros.
Por meio das reuniões do bloco, os líderes estatais identificaram interesses em comum e passaram, no conluio intra-BRICS, a atuar em favor dos setores de interesse comum, tais como o tecnológico, o mais desenvolvido nesta relação.
Um exemplo é a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, que tem como objetivo financiar projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento, com o Brasil sendo um dos principais beneficiários. O banco já aprovou mais de US$ 80 bilhões em empréstimos para projetos brasileiros, auxiliando o desenvolvimento econômico e social do país.
Outro aspecto no qual o Brics contribuiu foi a projeção internacional de Brasil e China no cenário global. Através do bloco, os dois países amplificaram suas vozes em fóruns internacionais e defenderam os interesses de países em desenvolvimento em questões como a reforma do sistema financeiro internacional, a mudança climática e a segurança global.
Diante do histórico das relações e aumento do dos números do comércio exterior a partir da formação do Brics, é possível ver o papel crucial da relação intra-BRICS como facilitador na aproximação diplomática entre Brasil e China.
O analista Garay Vargas destaca que os países membros do Brics (o que inclui China e Brasil) reivindicam tratamento diferenciado na esfera internacional porque ainda não são considerados “desenvolvidos”, vendo a si mesmos como objeto das políticas de redistribuição.
Com uma diplomacia direcionada aos interesses do bloco, essas relações cresceram, mas decaíram em consequência das mudanças governamentais no Brasil. Todavia, mesmo com a diminuição dos acordos, observa-se o interesse chinês nas parcerias com o Brasil, não somente dentro do Brics, mas com um forte laço bilateral, o que a coloca entre os principais parceiros econômicos brasileiros na atualidade.
_______
1. DAL MOLIN, Elisiane Dondé, CASTELLI, Yasmin Lenz Piccoli e DE NADAL, Emanuelle. in: “O papel dos BRICS nas relações diplomáticas entre Brasil e China”. Revista ideias.vol 10, Disponível em <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8656201>
2. GARAY VARGAS, J. L. in “Cuestionando consensos: algunos apuntes frente al —¿eventual?— ascenso de los BRICS como poderes globales”. Desafíos, [s.l.], v. 30, n. 2, p. 237-278, jun. 2018. Disponível em: < https://revistas.urosario.edu.co/index.php/desafios/article/ view/5578/5684>