A confecção de papel é uma das maiores invenções da China, com mais de 2 mil anos de história. Originalmente, era feito de cortiça, cânhamo e outros materiais fibrosos. Barato e de fácil acesso, se espalhou ao redor do mundo.
A confecção de papel na China era manual. A matéria-prima era embebida em água, fermentada, colocada no vapor ou fervida, branqueada, batida e secada antes de ser finalmente transformada em papel.
No Ocidente, o papel industrializado é feito com polpa de madeira, com muita eficiência da produção e preço baixo. Porém na China o método tradicional de confecção de papel ainda é usado para papéis utilizados para caligrafia e arte.
O papel xuan, feito na província de Anhui
O papel xuan é o usado na caligrafia e na pintura tradicional chinesa. Era produzido originalmente na cidade de Xuancheng, província de Anhui, daí o nome ‘papel xuan’. Famoso por sua maciez e fina textura, é perfeitamente adequado para a expressão artística.
Segundo a tradição, após a morte de Cai Lun (± 63 – 121), que aprimorou muito a arte de confecção de papel, seu aprendiz Kong Dan quis produzir uma espécie de papel branco-neve para pintar uma imagem.
Certo dia, se deparou com uma velha árvore de sândalo atravessada num riacho, num cânion no sul de Anhui. Após anos sendo lavada e erodida pela água corrente, a cortiça havia se soltado e revelado longas fibras brancas. Radiante, Kong experimentou usar a cortiça até que conseguiu produzir o que seria o precursor do papel xuan.
Na dinastia Tang (618-907), o papel xuan era usado para escrever e pintar. Valorizado, foi escolhido para homenagear a família real. O último imperador da Dinastia Tang do Sul, Li Yu (937-978), supervisionava a manufatura do papel Chengxintang, um tipo mais refinado de papel xuan. Ele é ultramacio e fino, tendo grande elasticidade, por isso é saudado como o melhor papel já feito na China.
O papel xuan tem uma série de características próprias. É durável e resiste à passagem do tempo sem perder a cor, enquanto permite que a tinta se espalhe facilmente. Isso o torna ideal para o trabalho com pincel, onde as nuances de cor e textura se tornem facilmente visíveis, com gradações distintas. Pinturas sobre papel xuan têm uma história de mais de mil anos. Elas são encontradas no Museu do Palácio e em outros museus da China, testemunhando suas impressionantes durabilidade.
O principal material para fazer papel xuan é a cortiça de sândalo azul, que cresce nas montanhas no sul de Anhui. Acrescenta-se a ela palha. O processo de produção é longo, composto por 18 etapas, algumas delas guardadas em segredo. A cortiça deve ser de galhos novos, com cerca de dois ou três anos de idade, já que suas fibras são mais adequadas tanto em tamanho quanto em qualidade.
Além de servir como material de pintura, o papel xuan também era usado para fazer anotações diplomáticas, e para preservar arquivos importantes e registros históricos. A maior parte dos livros antigos conservados até hoje na China, é em papel xuan, prova de sua resistência ao teste do tempo.
No início do século passado, devido às guerras, a produção do papel xuan correu riscos. Após a fundação da República Popular da China, em 1949, a produção foi retomada. O processo foi transmitido de geração a geração e continua sendo ensinado. Em 2006, a arte tradicional de confeccionar esse tipo de papel foi listada como patrimônio cultural intangível na China. Em 2009, reconhecida como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade pela Unesco.
Papel de bambu da província de Sichuan
O bambu como material para a produção de papel, tornou-se popular no sul da China no século III. No início, era um papel rústico mas frágil. Com o aprimoramento da técnica artesanal, ganhou aceitação e acabou superando o papel feito de cortiça e cânhamo em volume de produção.
A técnica de fabricação de papel de bambu no condado de Jiajiang, da cidade de Leshan, província de Sichuan, surgiu na dinastia Tang (618-906), quando era usado pela família real e extensivamente nos concursos imperiais.
Durante a Guerra da Resistência contra a Agressão Japonesa (1931-1945), Sichuan tornou-se o centro político, econômico e cultural da área naquele tempo. A necessidade de papel aumentou. Das 29 regiões produtoras naquela época, o papel de bambu de Jiajiang era o produzido em maior quantidade e de melhor qualidade. Na década de 1940, o famoso pintor Zhang Daqian visitou duas vezes Jiajiang, ajudou os artesãos locais a remodelar o processo de confecção do papel de bambu de Jiajiang. Ele o transformou numa superfície de pintura e escrita muito lisa, que mais tarde recebeu seu nome.
O processo de produção de papel de bambu tradicional tem 72 passos, desde a seleção do material até o produto final. Diferentemente do que ocorre em muitos outros lugares onde se fabrica papel de bambu, os artesãos de Jiajiang ainda adotam os métodos tradicionais. Por exemplo, o processo de “filtragem” – submergir uma mistura na solução, depois estender, sacudir e escoar essa mistura até que forme uma camada uniforme sobre uma tela – é operado por uma pessoa em vez de duas como em outros lugares.
Em 2006, a arte de confecção de papel de bambu de Jiajiang foi listada como patrimônio cultural intangível da China.
* Com informações de China Today.