A Pinacoteca de São Paulo disponibilizou em seu site o curso Arte e pensamento chinês contemporâneo”. 

A produção chinesa contemporânea é, em geral, lida ou como uma variação do repertório ocidental ou como expressão de uma identidade cultural chinesa essencial que resiste às influências.
As quatro videoaulas do curso apresentam, de maneira introdutória, expressões da filosofia, da prática artística e do sistema de arte chinês, traçando diálogos com o Brasil e o presente contemporâneo global.

Não é preciso se inscrever, basta clicar nos links abaixo. As aulas estão disponíveis até 30 de junho de 2024.

Aula 1 – Arte e cosmotécnica chinesa
Aula 2 – O lugar da arte contemporânea na China: mercado de arte e seus agentes
Aula 3 – Gênero, identidade e subversão na arte chinesa
Aula 4 – Pesquisa e curadoria no contexto de uma China Global

Conteúdo das Aulas

Arte e cosmotécnica chinesa — com José Antônio Magalhães

A relação entre a arte contemporânea e a cultura milenar chinesa pode ser pensada a partir do conceito de cosmotécnica(concepção e experiência da tecnologia), criado pelo filósofo e engenheiro de computação chinês/honconguês Yuk Hui. Partindo da filosofia da tecnologia de Heidegger e Simondon, bem como do debate cosmopolítico de figuras como Isabelle Stengers e Eduardo Viveiros de Castro, Hui afirma que a “questão da tecnologia” posta por Heidegger não é universal. Ao contrário, diferentes povos teriam não só diferentes cosmovisões, mas diferentes cosmotécnicas. Essas cosmotécnicas não são meras ideias; elas se coagulam na forma de objetos técnicos. Esta aula oferece ferramentas para pensar as relações entre Ocidente e Oriente, contemporaneidade e tradição, arte e tecnologia que se colocam como questão a partir da arte chinesa contemporânea e da obra de Cao Fei.

O lugar da arte contemporânea na China: mercado de arte e seus agentes
— com Amanda Mazzoni

Entender o mercado de arte é uma tarefa que envolve a compreensão de suas próprias origens e de seu desenvolvimento ao longo do tempo. Esta aula procura analisar a arte contemporânea chinesa e os desdobramentos produzidos por essa história — tão singular quando comparada aos moldes ocidentais — dedicando-se, sobretudo, à análise das narrativas que integram o mercado de arte contemporânea chinês e alguns dos processos instaurados em sua lógica particular. Para tanto, a aula será composta por dois blocos de análise: apresentação e contextualização da arte contemporânea chinesa, enfatizando seu contexto político e econômico de origem, assim como o interesse ocidental por tais produções; e num segundo momento, trazendo à discussão as principais características do mercado de arte contemporânea chinês, através da análise de alguns dos pilares que o integram.

Gênero, identidade e subversão na arte chinesa — com Caroline Ricca Lee

O encontro pretende traçar um panorama histórico e contemporâneo da arte chinesa em articulação com marcadores de gênero, sexualidade, nação e diáspora. Passando por políticas queer e o feminismo na China como pontes historicamente aliadas ao questionamento às dominâncias patriarcais, heteronormativas e cisgêneras, a aula trará referências de produções artísticas que negociam tradição e modernidade, na busca pela emancipação, o direito ao corpo e ao prazer.

Embates evidentes em produções como autorretrato, bodyart, fotografia, performance e mais recentemente, arte digital e realidade aumentada, estas produções representam não apenas as plurais identidades e sexualidades, mas igualmente desafiam os estereótipos raciais e objetificação sexual. Por fim, será abordado o impacto do imaginário colonial sobre os sujeitos chineses na arte, sob uma perspectiva decolonial, diante dos resquícios da representação de um “perigo amarelo” e a repercussão contemporânea do Orientalismo e chinoiserie, intrínseco à estética ocidental.

Pesquisa e curadoria no contexto de uma China Global — com Inti Guerreiro e Pollyana Quintella

Neste encontro, os curadores Pollyana Quintella e Inti Guerrero vão compartilhar alguns estudos de caso, no campo da curadoria, que envolvem práticas artísticas contemporâneas e o contexto cultural chinês, explorando seus desafios e potencialidades. Quintella contará sobre o processo de curadoria da exposição “Cao Fei: o futuro não é um sonho“, em cartaz na Pinacoteca, dando a ver os critérios de organização e narrativa dos quatro núcleos que compõem a mostra (“Manufatura e globalização”, “O passado e o presente do mundo virtual”, “Memórias do socialismo e sci-fi” e “Urbanização e distopia”), bem como a elaboração do catálogo e do projeto expográfico.

Inti Guerrero, por sua vez, aborda seus projetos recentes em Hong Kong e outras partes da Ásia, com enfoque em artistas chineses e suas especificidades no contexto de uma China Global.

Palestrantes

José Antonio Magalhães

Pesquisador pós-doutorado em teoria jurídico-política na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Doutor pela mesma instituição com estágio de pesquisa em Birkbeck, Universidade de Londres, com área de concentração em Teoria do Direito, Ética e Construção da Subjetividade. Mestre em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com área de concentração em Teorias Jurídicas Contemporâneas, na linha de pesquisa Direitos Humanos, Sociedade e Arte. Tem ministrado cursos livres em instituições como Ubu em Curso, Associação de Pesquisas e Práticas em Humanidades, Instituto de Estudos do Presente, Instituto Norberto Bobbio e Foreign Objekt.

Amanda Mazzoni

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens no Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora e mestra pela mesmo programa. Licenciada em História pela mesma instituição com experiência em Universidade chinesa (Capital University of Economics and Business/ Pequim). Desenvolve pesquisas nas áreas de História, Arte e Sociologia, atuando nos seguintes temas: Mercado de arte contemporânea, colecionadores de arte contemporânea, arte contemporânea chinesa e arte brasileira.

Caroline Ricca Lee

Artista transdisciplinar cuja produção dedica-se à ficções especulativas sobre memória, identidade e ancestralidade. Ainda, se propõe como sujeito do conhecimento nas intersecções de práxis entre arte, reflexão crítica e estudos decoloniais, sendo sua principal área de pesquisa a identidade asiática, em articulação com questões de raça, gênero, nação e migração. Foi artista residente na residenzPLUSbrasil16 (Internationales Künstlerhaus Villa Waldberta, Munique, 2016), organização plataforma PLUSbrasil. Destacam-se as exposições: terra abrecaminhos (Sesc Pompéia, São Paulo, 2023); Do voo às narinas respirar, braços longos, mensagens ao vento (HOA Galeria, São Paulo, 2023); 1º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Goiás (Museu de Arte Contemporânea de Goiás, Goiânia, 2022); Essa minha letra (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, Rio de Janeiro, 2022); 31ª Mostra de Exposições do Centro Cultural São Paulo (Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 2021). Artista indicado ao Prêmio Pipa 2023.

Inti Guerreiro

É crítico e curador colombiano que vem desempenhando funções de diretor artístico, curador independente e critico da arte na América Latina, Europa e Ásia. Estudou História e Teoria da Arte na Universidade de Los Andes em Bogotá e na USP-Universidade de São Paulo e integrou o programa de estudos curatoriais do De Appel Arts Centre de Amsterdam. De 2016 a 2019 foi curador adjunto de arte latino-americana da Tate Gallery (Estrellita Brodsky B. Curatorship), tendo coordenado a representação da arte da América Latina na coleção da Tate durante este período. Foi um dos diretores artísticos da Bienal de Sydney de 2022, diretor artístico da Fundação Filipina de Projetos Belas Artes (BAP) e curador da 38ª edição da EVA International que ocorreu em 2018 na Irlanda. Foi Diretor Associado de Arte e curador na Fundação Ars TEOR/éTica na Costa Rica. Alguns projetos em curadoria: Josephine Baker e Le Corbusier – Um caso Transatlântico, Museu de Arte do Rio – MAR; Man Up!, Tate Film, Tate modern, London; A cidade do homem nu, Museu de Arte Moderna de São Paulo; Flying Down to Earth, MARCO, Vigo and FRAC Lorraine, Metz; and Duet for Cannibals, Royal Tropical Institute, Amsterdam, 2010.

Pollyana Quintella

É escritora, pesquisadora e curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, além de doutoranda pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Possui mestrado em História da Arte pela UERJ, ocasião em que pesquisou a obra de Mário Pedrosa, e graduação em História da Arte pela UFRJ. No Museu de Arte do Rio (MAR), atuou como curadora assistente entre 2018 e 2021. Como curadora, realizou, entre outras, as mostras FARSA – Língua, Fratura, Ficção: Brasil-Portugal (SESC Pompeia), Flávio de Carvalho Experimental (SESC Pompeia) e Lenora de Barros: Minha Língua (Pinacoteca). Nos últimos anos, escreveu para diversos periódicos como Jornal Folha de São Paulo, Jornal O Globo, Revista ZUM, Revista Select, Revista Continente, Revista ArteBrasileiros!, entre outras, com ênfase nas relações entre arte contemporânea, cultura visual e política. Dá aulas sobre arte brasileira e teoria da imagem em cursos livres. Em 2023, foi contemplada com uma bolsa da Getty Foundation para integrar o Art and Power School, realizado na Bibliotheca Hertziana – Max Planck Institute for Art History, em Roma.

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