O fundador e dono de uma rede de supermercados na China disse que está comprometido em fazer da felicidade de seus funcionários uma prioridade.
Yu Donglai, presidente da rede Pang Dong Lai, anunciou que sua empresa ofereceria a seus 7.000 funcionários 10 dias da chamada “licença por infelicidade”, deixando que a pessoa falte quando sentir-se estressado, triste ou desanimado.
“Quero que cada funcionário tenha liberdade. Todo mundo tem momentos em que não está feliz, então se você não estiver feliz, não venha trabalhar”, disse Yu.
Essa folga especial não contabiliza junto com os 30 dias de férias anuais e cinco dias de folga do Festival da Primavera, algo raro para uma empresa chinesa. Na rede de supermercados de Yu, os funcionários trabalham apenas sete horas por dia, folgam aos fins de semana.
O empresário disse que o objetivo é que o supermercado tenha um “ambiente de trabalho semelhante ao europeu”. Ele conta que veio de uma família pobre e entende as dificuldades que os trabalhadores enfrentam. Sua intenção é ajudar os funcionários a alcançar um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
A rede de varejo Pang Dong Lai também possui um “Prêmio de Reclamação”, que oferece aos trabalhadores prêmios de 5 a 8 mil yuans (R$ 3,8 mil a R$ 6,2 mil) como uma compensação quando os funcionários precisam lidar com reclamações ou são maltratados pelos clientes.
Trabalhadores brasileiros são mais infelizes que a média global
Um levantamento da Pluxee, em parceria com a The Happiness Index, aponta que os trabalhadores brasileiros estão 9% mais insatisfeitos com o trabalho do que a média global. A pesquisa mundial avaliou o nível de felicidade de colaboradores em mais de 100 países. Foram ouvidos mais de 23 mil profissionais entre fevereiro e março de 2024.
O estudo mostra que a média de felicidade no trabalho entre os brasileiros é de 7,2, enquanto a média global é 7,8. Foram avaliados a felicidade, que engloba as condições de trabalho e oportunidades de crescimento, e o engajamento, que mede a conexão dos funcionários com suas funções e com as empresas.
Já no quesito felicidade, os trabalhadores brasileiros estão 4% abaixo da média global, e, em termos de engajamento, a diferença aumenta para 10%.
Opinião de especialistas
A professora Dani Plesnik, coordenadora do curso de pós-graduação em segurança psicológica da Human SA, explica que essa ação cria um ambiente de engajamento entre os funcionários, mas não pode ser isolada.
“Minha preocupação é que isso seja a única coisa que a empresa esteja fazendo. É como se estivéssemos trabalhando com um remédio, e não com a causa. Quando se trabalha com o bem-estar e a felicidade nas empresas, é preciso olhar a causa da tristeza como um todo”, afirmou a especialista ao G1.
Ela enfatiza que é necessário repensar as formas de trabalho e como os funcionários se relacionam. Assim, o ambiente corporativo não se torna um local de adoecimento. Esse tipo de benefício influencia positivamente vários aspectos.
“A partir do momento que a gente considera o cuidado do psicossocial como algo que tem uma regulamentação e um incentivo legal, essa licença pode vir para o Brasil como uma solução para quem está realmente preocupado em mudar a cultura da empresa”, finalizou.
Para Roberta Basílio, cientista comportamental e professora do curso de Administração da ESPM, medidas que promovam o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal são muito importantes para o bem-estar dos trabalhadores.
“A produtividade no trabalho pode ser prejudicada no médio e longo prazo pela ausência deste equilíbrio. Em resumo, a falta de medidas não é sustentável e traz um desgaste ao longo do tempo, podendo resultar em um ‘burnout”, reforça
.
A professora entende que o benefício de “licença por infelicidade” é uma inovação, mas não seria, necessariamente, a solução dos problemas de engajamento e saúde mental dos funcionários, que depende de aspectos como ambiente, excesso de carga de trabalho e remuneração baixa, entre outras coisas.
Com informações do South China Morning Post