Dentre o amplo cenário cultural do território chinês, destaca-se o povo hezhe, que habita as margens dos rios gelados do Extremo Norte. Eles são uma das etnias indígenas mais antigas da China e, atualmente, uma das menores, contabilizando menos de 5 mil pessoas.
Historicamente, eram um povo nômade, sobrevivendo da caça e da pesca na planície formada pelos rios Heilong, Songhua e Wusuli, na província de Heilongjiang, nordeste da China. Eles sempre desafiaram as adversidades climáticas e ambientais, mantendo sua conexão com a natureza, em especial os rios Amur e Songhua. Devido à sua localização no leste, eles são conhecidos como “observadores do sol”.
No inverno, viajam de trenó e caçam em esquis. Também são conhecidos pelas habilidades em carpintaria, curtimento de couro e fundição de ferro.
História
Os hezhes traçam sua linhagem até os nômades nuzhens, cavaleiros tártaros que devastaram as fronteiras do norte de várias dinastias chinesas. Parte do povo hezhe também chamam a si mesmos de nanai, nabei e naniao – todos significando “nativos”.
Eles ficaram sob domínio chinês pela primeira vez durante a Dinastia Tang (618-907), quando a Região Militar de Heilong foi criada para governar a área. No início da dinastia Qing (1644-1911), os hezhes foram incorporados ao sistema militar de “oito estandartes” dos governantes manchus. Durante o domínio do estado fantoche japonês de Manchukuo durante a ocupação japonesa do nordeste da China que os hezhes foram perseguidos e vítimas de um genocídio. A alta taxa de mortalidade fez com que chegassem quase ao ponto de extinção.
Com o fim da Guerra de Resistência contra o Japão em 1945, os hezhes participaram ativamente das operações de limpeza do Exército Popular de Libertação da China contra as forças remanescentes do Kuomintang em sua área.
Voltaram então para seus antigos campos de caça e reconstruíram suas casas com a ajuda do governo chinês. Empréstimos e fundos de ajuda permitiram que eles retomassem seu modo de vida tradicional. A agricultura foi incentivada e muitos dos hezhes aderiram a ela, enquanto outros preferiram manter os hábitos de caça e pesca.
Costumes
As roupas tradicionais de Hezhe são feitas de couro de salmão e peles de renas. A decoração das vezes são botões feitos de ossos de peixe e golas e os punhos tingidos em padrões em forma de nuvem. As mulheres usam vestidos decorados com conchas e tiras coloridas de couro de rena, tingidos com desenhos de nuvens, plantas e animais. As botas usadas no inverno são costuradas com peles de urso e casca de bétula.
Contar histórias e cantar músicas são os passatempos favoritos do povo hezhe, que tem uma riqueza de contos populares, chamados de ‘yimakan’. Alguns dessas narrativas épicas podem durar mais de um dia para ser contada, envolvendo heróis antigos, alternando poesia, prosa e música, que determina diferentes pontos da narrativa. Em 2011, a prática foi incluída na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial que necessita de medidas urgentes de salvaguarda da UNESCO.
A cada quatro anos eles celebram o festival “Wurigong”, que significa “alegria e celebração” no idioma hezhe. O festival é muito importante para os hezhes e serve como uma grande mostra da cultura tradicional, combinando apresentações de música, dança, arte narrativa e esportes (jogos de bola, luta livre, pesca com garfo, arco e flecha e caça de coelhos).