O mandarim, língua oficial da China, também é a linguagem nativa mais falada do mundo, usada por mais de um bilhão de pessoas diariamente. Devido à importância crescente da China no cenário mundial, o interesse pelo seu aprendizado tem aumentado. Estima-se que atualmente mais de 25 milhões de pessoas estudem o “chinês”, como segunda língua.

Hoje, 30 de setembro é o Dia do Tradutor. O Ibrachina entrevistou Amílton Reis sobre o aprendizado do mandarim e as oportunidades para tradutores. Ele é responsável pela tradução de “As Rãs”, de Mo Yan, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura.

Atualmente Amílton trabalha na tradução do terceiro livro de Mo Yan para uma editora brasileira e, paralelamente, faz doutorado em estudos da tradução sobre uma obra chinesa do início do século XX.

“Espero poder traduzir mais livros e ver cada vez mais novos tradutores brasileiros de literatura chinesa trabalhando para expandir nosso conhecimento sobre a China e sua civilização”, reforça.

Ao analisar sua trajetória, Amílton explica que o tradutor muda a cada tradução. “Não sei se devo usar a palavra ‘evolui’, mas o fato é que, hoje, não traduzo da mesma forma que traduzia 10 anos atrás. Ideias e conceitos vão mudando com a experiência. O que parecia uma escolha razoável antes, hoje seria descartada. Aspectos do autor, do narrador, dos recursos estilísticos vão ficando mais claros e as decisões, no geral, amadurecem”, explica.

Confira abaixo como foi a conversa

Onde e como você aprendeu mandarim?

Desde os anos 1990 aprendi mandarim de várias maneiras e em vários lugares: na universidade (paralelamente à minha formação em Linguística), com professores particulares, como autodidata, em escolas de chinês e em cursos na China.

Por que você optou pela carreira de tradutor de mandarim para o português?

Eu já trabalhava com revisão de tradução chinês-português e via a tradução literária como um sonho distante. Certo dia, uma editora me procurou: estavam selecionando um tradutor para um romance chinês. Enviei, como teste, algumas páginas traduzidas e fui selecionado. Era o primeiro livro de Mo Yan a ser publicado no Brasil.

Como é o processo de traduzir do mandarim para o português?

A tradução direta do chinês não é fácil. É muito mais trabalhoso e demorado traduzir do chinês do que de línguas como inglês ou francês. Não é só uma questão de vocabulário e escrita, mas também de ordenamento das informações: a sintaxe dos períodos compostos em chinês é bastante complexa.

No âmbito literário, existe a dificuldade adicional de produzir uma obra literária na língua de chegada respeitando o estilo e a voz do autor original. Não é uma transferência automática, como se pode pensar. Não se trata de traduzir palavra por palavra e pronto, o estilo se transfere para a língua de destino. O tradutor tem que fazer muitas escolhas e encontrar muitos meios-termos para, digamos, tentar minimizar as perdas e produzir um texto alinhado com a sua proposta, com o projeto da editora e/ou com a expectativa do leitor.

Hoje, não traduzo da mesma forma que traduzia 10 anos atrás. Ideias e conceitos vão mudando com a experiência. O que parecia uma escolha razoável antes, hoje seria descartada. Aspectos do autor, do narrador, dos recursos estilísticos vão ficando mais claros e as decisões, no geral, amadurecem.

Além de literatura chinesa, que tem ganhado espaço, quais outros papéis o tradutor de mandarim pode desempenhar?

Além da tradução literária, ou editorial, existem outros caminhos como a tradução comercial e a tradução técnica, isto é, para setores específicos como engenharia civil, energia, agropecuária etc. Também existe uma demanda crescente por intérpretes, que podem tanto atender empresas como eventos (conferências, palestras, feiras etc.). Existem oportunidades em estados como Mato Grosso, por exemplo, que têm um grande volume de negócios com a China, mas enfrentam escassez de tradutores e intérpretes.

 

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