O chá, muito antes de se tornar a bebida preferida e um modo de vida na China, era considerado um remédio medicinal. Mais do que um tratamento para doenças individuais, era ingerido como um tônico geral para a saúde, capaz de aumentar a vitalidade e a longevidade. Mesmo hoje em dia, na medicina tradicional chinesa, chás verdes são prescritos para uma variedade de problemas.

O chá também era usado por aqueles que desejavam ter mais concentração enquanto meditavam, tornando-se popular entre os monges budistas que, mais tarde, o introduziram nos círculos aristocráticos. Por algum tempo, apenas pessoas de alto nível nas cortes imperiais e esses monges selecionados podiam tomar chá regularmente. Depois o chá tornou-se amplamente disponível para as pessoas de todas as classes. Logo a bebida foi incorporada na vida cotidiana e começou a ser apreciada apenas por prazer.

A TRADIÇÃO DAS CASAS DE CHÁ

Desde o início da dinastia Ming, casas de chá surgiram em todo o país. Pessoas de todas as idades vinham a todas as horas do dia para tomar chá e aproveitar a companhia umas das outras. O chá nunca foi confinado a uma hora estrita do dia, sendo consumido a qualquer momento. As casas de chá geralmente servem apenas a bebida e se tornaram parte do ritual diário da maioria das pessoas.

Hoje, na China, enquanto as casas de chá ainda mantêm a popularidade como locais de reunião, a importância do chá na vida cotidiana é geralmente evidente na mesa. Ele é uma das partes mais importantes de cada refeição, seja café da manhã, almoço ou jantar. Em casa ou em um restaurante, você sempre encontrará uma xícara de chá pronta para consumo. Além do horário das refeições, o chá é servido para receber os hóspedes como uma forma de respeito.

Na China, o chá verde é o mais consumido, com o chá Wu Long (乌龙) sendo o segundo mais próximo, seguido pelo Pu Er (普洱). O chá branco e o chá preto são bebidos com menos frequência, mas ainda estão entre os mais importantes desta cultura.

A CERIMÔNIA DO CHÁ

Os chineses praticam uma forma de cerimônia do chá chamada Gong Fu (功夫茶), que tem algumas semelhanças e muitas diferenças com a cerimónia do chá japonesa, que é mais conhecida. Em uma cerimônia de estilo Gong Fu, o mestre do chá que prepara a bebida para o grupo é considerado um artista.  Os estilos para verter a água e o chá variam e os mestres dedicam muito tempo praticando manobras difíceis e artísticas.

Normalmente,  os utensílios básicos usados para essa cerimônia são um bule de argila Yi Xing (宜兴) e várias xícaras pequenas, uma pia de chá ou uma tigela rasa para drenar a água e algumas ferramentas de bambu para manusear os objetos quentes. O mestre do chá organiza o bule e as xícaras de maneira circular sobre a pia de chá ou na tigela e derrama a água quente em cada uma para enxaguar os objetos e aquecê-los, de modo que a temperatura do chá seja mais consistente. A água de enxágue é descartada e, em seguida, uma porção generosa de folhas de chá, geralmente oolong, é colocada no bule.

Mais água quente é despejada no bule com as folhas de chá. Cada infusão na cerimônia de Gong Fu é muito rápida, cerca de 30 segundos, embora o tempo nunca seja preciso. Segundo uma tradição, a água quente é derramada sobre a parte externa do bule e, quando a água é vista como totalmente evaporada, o chá está pronto para ser servido. Em outra tradição, o mestre do chá deve contar 4 respirações profundas. Qualquer um desses métodos leva aproximadamente de 30 segundos. Então o mestre do chá começa a servir cada uma das xícaras, um pouco de cada vez, para que cada pessoa tenha a mesma quantidade e força de chá em seu copo. Depois de desfrutar desta primeira rodada de chá, as folhas podem ser reutilizadas para outras infusões.

Outra tradição que vale destaque é o curioso chá de manteiga de iaque das montanhas do Tibete. Fortes folhas de chá preto, ou muitas vezes Pu Er, são fervidas durante a noite – para criar um concentrado muito forte de chá. Este concentrado é batido em um recipiente especial com manteiga de leite de iaque ou cabra e sal, criando uma mistura espessa e espumosa. Este chá é bebido todos os dias pela maioria das pessoas e, devido à sua alta contagem calórica, é uma importante fonte de nutrição para o povo tibetano.

A LENDA

Reza a lenda chinesa que a tradição do preparo  do chá começou com uma distração do imperador Shen Nong (神农), também chamado de “curandeiro divino”. Para tirar as impurezas da água, ele a ferveu e deixou o recipiente descoberto, próximo a uma árvore. Sem que o imperador percebesse, algumas folhas caíram no líquido. Após tampar o recipiente e deixá-lo ali por algum tempo, Shen Nong sentiu um aroma agradável e experimentou a deliciosa bebida.

O CHÁ CHINÊS NO BRASIL

Os primeiros registros da aproximação entre a cultura chinesa do chá e o Brasil são de 1810. De olho na rentabilidade da produção desta especiaria, Dom João VI trouxe ao Brasil cerca de 500 chineses de Macau para trabalhar no cultivo do chá. A produção não teve o êxito esperado, mas deu início a um importante elo entre as duas nações. Hoje, além do consumo do chá ter se popularizado entre os brasileiros, também existem excelentes casas de chá especializadas que disponibilizam as delícias e a sabedoria deste hábito milenar para os brasileiros.

 

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