Enquanto o chá reina há séculos na China, o café começou a ganhar espaço apenas na última década, tornando-se um símbolo de modernidade para as novas gerações. Estima-se que o consumo anual saltou de 300 mil sacas de 60 kg em 2009 para 6 milhões atualmente.
“Para os chineses, o café é uma bebida muito nova. A cultura deles de café foi criada nesses últimos anos”, explica Boram Um, barista brasileiro campeão mundial e parceiro de uma rede de cafeterias na China.
O impacto no Brasil foi sentido em 2023, quando as vendas para o mercado chinês dispararam 275%, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). O salto elevou a China da 20ª para a 6ª posição entre os maiores importadores do grão brasileiro, consolidando o país como líder global no setor.
No ano passado, durante sua visita à China, o vice-presidente Geraldo Alckmin assinou um acordo para ampliar a venda de café brasileiro para a China. O presidente do Ibrachina, Thomas Law, estava entre os brasileiros que acompanharam a comitiva de Alckmin.
Ao mesmo tempo, acordos bilionários foram fechados, como o da rede Luckin Coffe, que importará US$ 500 milhões em café brasileiro e planeja compras de US$ 2,5 bilhões nos próximos anos.
Cafeterias e inovação: o cenário chinês
A China superou os EUA em número de cafeterias em 2023, com 49,6 mil unidades, conforme a consultoria World Coffee Portal. Destaque para a Luckin Coffee, que expandiu de 8 mil para 16 mil lojas em um único ano e hoje ultrapassa 20 mil unidades.
“Cinquenta por cento de todo o café que a Luckin Coffee compra é só do Brasil. O resto é dividido com outros países”, afirma Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé. A marca ainda conta com o brasileiro Boram Um como embaixador e consultor de blends, incluindo criações como o Coconut Latte (café com leite de coco) e o Moutai Latte (mistura com licor tradicional).
Enquanto os brasileiros preferem o café puro, os chineses o reinventam em combinações como suco de limão, água de coco e até bebidas alcoólicas. A entrega por apps é outro marco: 70% dos pedidos são feitos por delivery, incluindo casos curiosos como o de Marina Guaragna, que recebeu um café da Starbucks por drone em Shenzhen.
“Os jovens veem o café como algo moderno”, destaca Fernando Maximiliano, analista da StoneX. A abertura ao exterior e a exposição a culturas globais explicam parte da mudança, segundo Mariana Bahia, da CCBB: “O chinês se globalizou, viajou mais e recebeu empresas internacionais”.
A tradição do chá permanece forte, mas o café conquista espaço em reuniões e no cotidiano. “Eles se aprofundam quando gostam de algo”, observa a influenciadora Pri Jin, destacando o interesse crescente por métodos de preparo e qualidade. Enquanto isso, cafeterias “instagramáveis” com decoração futurista também atraem jovens.