Em um movimento que reforça a crescente influência chinesa no setor automotivo brasileiro, a Great Wall Motor (GWM) confirmou, durante encontro com o presidente Lula da Silva, o início da produção de três modelos em sua fábrica de Iracemápolis (SP). O anúncio, feito em Beijing, indicou novos investimentos a partir de julho de 2025.
O fundador e chairman da empresa, Jack Wey, destacou que serão R$ 10 bilhões injetados no país, com a geração de 800 empregos diretos ainda no próximo ano.
A reunião, que contou com a presença de autoridades brasileiras e chinesas, destacou o papel do Brasil como polo estratégico para a expansão da montadora na América Latina. Além de reativar a planta paulista — adquirida da Mercedes-Benz em 2021 —, a GWM planeja transformar o país em um centro de pesquisa, engenharia e desenvolvimento de fornecedores locais.
Três Modelos e Capacidade de Produção
A linha de produção em Iracemápolis começará com três veículos: o SUV híbrido Haval H6, já comercializado no mercado brasileiro por importação, a picape média Poer e o SUV de sete lugares Haval H9. A capacidade inicial da fábrica será de 50 mil unidades por ano, com previsão de expansão para 100 mil anuais, conforme a demanda crescer.
A escolha dos modelos reflete tendências de consumo. A picape Poer, por exemplo, visa competir com a Toyota Hilux e Fiat Toro, segmento que representa 15% das vendas nacionais. Já o Haval H9 oferece espaço para sete passageiros, apelando a famílias e entusiastas de aventura.
O projeto divide-se em duas etapas. A primeira, com R$ 4 bilhões, cobriu a aquisição da fábrica e o início das operações. A segunda, de R$ 6 bilhões, será aplicada entre 2027 e 2032 para ampliar a planta, desenvolver tecnologias locais e adicionar dois modelos à linha — ainda não revelados.
Segundo Wey, os 800 empregos diretos previstos para 2025 são apenas o início: “No futuro, geraremos mais de 2 mil vagas e exportaremos para toda a América Latina”. A meta é consolidar a GWM não somente como montadora, mas como hub de inovação, atraindo fornecedores e fomentando a cadeia produtiva regional.
Especialistas veem a estratégia como uma resposta à demanda por opções sustentáveis e acessíveis. “O Brasil é um mercado-chave para veículos híbridos e picapes. A GWM está preenchendo lacunas deixadas por montadoras tradicionais”, analisa Ricardo Bacellar, consultor automotivo.
Perspectivas para a América Latina
A longo prazo, a estratégia da GWM inclui usar o Brasil como base para exportação para Argentina, Chile e Colômbia. A capacidade de 100 mil unidades/ano permitirá suprir a demanda regional, aproveitando acordos comerciais e similaridades de mercado.
Enquanto isso, o país consolida-se como epicentro da mobilidade eletrificada na região. Somente em 2023, as vendas de híbridos e elétricos cresceram 62% no Brasil, impulsionadas por incentivos governamentais e conscientização ambiental.