Em 8 de maio celebra-se o Dia do Artista Plástico. A data foi instituída em 1950 para homenagear uma das manifestações artísticas mais antigas da humanidade: a pintura.
Para marcar a data, lembramos da trajetória de Chang Dai-chien (1899-1983), cujo nome também é grafado como Zhang Daqian. Ele é considerado por muitos como um dos maiores pintores chineses do século 20. As informações são da Revista da Unicamp.
Dai-chien viveu um momento de grande destaque no mercado artístico internacional três décadas após sua morte. Em 2011, o valor de suas obras negociadas em leilões fizeram dele o artista mais valorizado do mundo, vendendo mais de meio bilhão de dólares, à frente de nomes como o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e o norte-americano Andy Warhol (1928-1987).
Foi durante sua “fase brasileira”, a partir da década de 1960, que Chang adotou um novo estilo de pintura, que o aproximou da arte ocidental e, de certa forma, significou uma ruptura com a pintura tradicionalista que o tornou renomado. “O valor dele talvez esteja nesse último momento, em que ele, com a visão já afetada, começou a pintar em névoas, em neblinas e coisas assim enevoadas, o que se aproxima – e certamente não era intenção dele – do abstracionismo expressionista”, opina José Roberto Teixeira Leite, professor aposentado do Instituto de Artes da Unicamp e estudioso da cultura da China.
“Naquela fase final, ele lança as tintas sobre o pergaminho, sobre o rolo, e de repente aquelas tintas sugerem formas, e aí ele aprimora uma forma. Isso é algo que ele criou. Nesse momento ele deixa de ser aquele pintor tradicionalista, do século 11, e tenta uma aproximação com o século 20, ainda que, na minha opinião, inconsciente. Foi uma faceta nova na arte dele.”
A experiência de Teixeira Leite revela que, mesmo atualmente, fora dos círculos artísticos, Chang não é amplamente reconhecido.
Memória que não se apaga
Chang recebeu no Ocidente a alcunha de “Picasso oriental” ou “Picasso da China” por ser o primeiro pintor chinês a conquistar fama ao expor em grandes museus europeus e norte-americanos e pela maestria com que revitalizou sua tradição artística. Nascido na Província de Sichuan, no sudoeste da China, no final do século 19, Chang percorreu o mundo apresentando suas obras e colecionando trabalhos de grandes nomes das artes plásticas chinesas. Em sua coleção, reuniu os expoentes de quase mil anos da pintura tradicional da China, que serviriam de inspiração para suas obras.
O “Picasso chinês” deixou a China continental em 1948, pouco antes da Revolução Comunista, tendo vivido em Hong Kong e na Argentina. No final de 1953, Chang veio para o Brasil a convite de um amigo e acabou se fixando, com mulher e sete filhos, em Mogi das Cruzes, atraído pela beleza natural da Mata Atlântica. Inicialmente, morou em uma casa próxima ao centro de Mogi – ainda existente, apesar de modificada – enquanto construía uma grande propriedade na zona rural do município. Só deixou o país em 1970, quando soube que o sítio de seis alqueires que com tanta dedicação modificara seria inundado por uma represa. Depois de um período vivendo nos Estados Unidos, em 1976 mudaria definitivamente para Taiwan, onde ficaria até o fim de seus dias. Depois que deixou o território brasileiro, manteve poucos vínculos aqui, mas ao menos dois de seus filhos e alguns netos permaneceram morando no Estado de São Paulo nas décadas seguintes.
Chang Dai-chien teve uma fecunda produção artística, cujo volume é estimado por seu filho Paulo Chang em mais de 30 mil obras. No final dos anos 1950, quando já era famoso na Europa e premiado na América do Norte, o mestre expressou sua visão sobre o ofício da pintura e o papel do artista da seguinte maneira: “O pintor é a divindade de seu próprio mundo, investido com a prerrogativa de criar qualquer coisa que ele tenha vontade. Em suas pinturas, ele pode representar o papel do Criador e fazer chover ou fazer o sol brilhar sem receber ordens de qualquer outra força existente.”
Chang expôs em vários museus e galerias brasileiros no período em que morou aqui, como na 6ª Bienal Internacional de Artes em São Paulo (1961), no Museu de Arte de São Paulo (1966), no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (1966) e em galerias paulistanas como Atrium (1968), Chelsea (1971) e A Galeria (1973).
A CRI produziu uma reportagem especial sobre ele
O Instituto CPFL dedicou um episódio da série “Traços da China” ao trabalho de Chang