O Dia Nacional do Café é celebrado anualmente em 24 de maio. A exportação de café do Brasil para a China vem crescendo muito nos últimos anos. A rede de cafeterias Luckin Coffee, a maior do país asiático, firmou um acordo para comprar 240 mil toneladas de café brasileiro entre 2025 e 2029.
Um dos embaixadores da marca é o brasileiro Boram Julio Um, vencedor da World Barista Championship em 2023. Ele trouxe para o Brasil o título inédito de melhor barista do mundo, na competição de baristas conhecida como as “Olimpíadas do Café”.
O café está presente na sua vida do campeão há anos. Juntamente com o irmão, cresceu acompanhando de perto a cafeicultura e o barismo. Sua família é proprietária da Fazenda Um, em São Gonçalo do Sapucaí, Sul de Minas Gerais. Eles produzem diferentes tipos de cafés.
Em entrevista ao site do Ibrachina, ele fala sobre sua trajetória e da relação com a rede de cafeterias Luckin Coffee, a maior da China. A empresa firmou um acordo para comprar 240 mil toneladas de café brasileiro entre 2025 e 2029.
Qual o impacto para o mercado de um barista brasileiro ser campeão no World Barista Champion?
Acredito que o principal impacto é que as competições de baristas é elas serem o maior epicentro de inovação e novas tendências para a indústria do café. Então, vencer essa competição basicamente vai ajudar a ditar as próximas tendências do mercado.
Ser um campeão brasileiro trabalhando com café de alta qualidade brasileira na competição mundial é a tendência principal que trouxemos. Afinal, o Brasil produz um dos melhores cafés do mundo e isso abre os olhos dos consumidores para cafés de alta qualidade do país.
Como foi sua trajetória na relação com a Luckin Coffee?
A Luckin Coffee, na verdade, sempre teve esse trabalho próximo com campeões mundiais, porque faz parte da campanha de marketing deles e seu compromisso de qualidade com o café. Desde 2017, eles começaram a colocar como embaixadores os campeões mundiais. Atualmente, somos cinco embaixadores da marca.
Estou há dois anos com eles. Meu trabalho principal dentro da Luckin, além de ser a cara, o rosto da marca, é ajudar a desenvolver bebidas também. Trabalhamos na aprovação de receitas novas da equipe criativa deles. Também fazemos o controle de qualidade e aprovação de blends e utilização de cafés.
Isso é ótimo para o Brasil, principalmente por eu ser o campeão brasileiro deles, consigo influenciar para consumirem mais cafés brasileiros ou que eles considerem mais o Brasil como um dos seus principais fornecedores.
O consumo de café na China tem aumentado exponencialmente, abrindo o mercado para a produção brasileira. Como você avalia isso?
O consumo de café em solo chinês vem se consolidando muito bem. Além da Luckin há outras redes grandes que também estão usando café brasileiro. Acho que a China continuará sendo um dos parceiros mais importantes para nós, não só pelo volume de consumo, mas também porque eles reconhecem a qualidade do nosso grão.
A Luckin assinou com o governo brasileiro um termo de compromisso no aumento do consumo de café produzido no Brasil. Inclusive, eles acabaram de abrir uma loja temática em Beijing, focada em cafés brasileiros, chamada Luck in Brazil. Isso mostra o compromisso deles e a valorizam do café vindo do Brasil.
O público chinês tem um perfil de consumo diferente do brasileiro. Quais são as principais diferenças de hábito no país asiático?
Na verdade, o consumidor chinês tem um comportamento de consumo completamente diferente do mundo inteiro. Afinal, o café nunca foi uma bebida tradicional na China. Então, como é uma bebida nova, eles criaram a própria cultura de consumo de bebidas deles.
Enquanto no Brasil a gente sempre teve a referência europeia de beber café expresso, consumir bebidas clássicas da máquina de expresso, a China acaba consumindo como um mocktail. Isso é, uma bebida de assinatura. Eles usam o café para fazer bebidas muito criativas, adicionam suco, outros tipos de leite e até xaropes.
Tem um nível de criatividade muito, muito legal. São coquetéis muito bem elaborados, bebidas muito bonitas.
O que ainda falta para o Brasil conquistar um share maior do mercado chinês de bebidas? Quais as expectativas de crescimento desse mercado nos próximos anos e quais investimentos seriam necessários, na sua opinião?
Existe uma demanda por qualidade. O mercado chinês está cada vez mais sofisticado. Eles sabem muito bem o que é um grão de alta qualidade e consomem cafés incríveis. Os melhores cafés já estão no mercado chinês. É necessário que o Brasil invista cada vez mais em cafés de qualidade, com complexidade maior. Seria bom estarmos preparados e fazermos investimentos na produção de cafés bons, porque a China será, cada vez mais, um dos mercados mais exigentes do mundo.