O Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PROLAM) da USP, oferece a disciplina “China: relação com América Latina e Caribe na contemporaneidade”, com apoio do Ibrachina.
São 24 horas-aula online, distribuídas em seis semanas, com aulas teóricas, entre 9:00 e 12:30, de 7 de outubro a 11 de novembro de 2025.
Os professores responsáveis são Thomas Law, Julio Suzuki e Victor Gabriel Rodriguez.
A matrícula para alunos especiais é de 10/07 a 15/07, pelo site https://prolam.usp.br/calendario_matriculas/
Objetivo
Objetivo é fornecer aos discentes conhecimentos básicos sobre a realidade atual da China, com ênfase em suas características sociais e econômicas, e seus impactos diretos na política internacional para a América Latina. Serão apresentados seis aspectos pontuais da economia, sociedade e política externa chinesas.
A disciplina será ofertada por três docentes e convidados especialistas em cada tema. O docente poderá funcionar como expositor ou como mero debatedor entre especialistas renomados, na prática. Como avaliação final, o aluno deverá apresentar um texto de até 15 páginas sobre qualquer dos temas centrais das aulas, relacionando-o com o tema de seu projeto de dissertação ou tese.
As aulas serão ministradas presencialmente, com convidados possivelmente em virtualidade.
Ao trazer aulas concentradas em dias consecutivos, a carga de leitura pode ser menor, porém a cada encontro os discentes serão orientados para futura leitura de textos específicos, indicados pelo professor ou pelo palestrante.
Programa
1. A ascensão econômica da China e seu impacto na América Latina
Professor Responsável: Thomas Law (7 de outubro)
Justificativa
A transformação da China em uma potência econômica global alterou as dinâmicas comerciais e de investimento na América Latina, tornando-se seu principal parceiro comercial. Este tema explora os efeitos dessa relação assimétrica, porém bastante distinta se comparada a outras dinâmicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Pontos de Análise
- Principais produtos exportados da América Latina para a China: soja, minério de ferro, petróleo
- Dependência da América Latina em relação ao mercado chinês: riscos e oportunidades
- Empresas chinesas na América Latina: infraestrutura, energia e tecnologia
- Diferenças no modelo de investimentos chineses e ocidentais
- Bancos chineses na América Latina
- Big Techs chinesas: caso específico da Inteligência Artificial
Bibliografia sugerida
- Gallagher, K. P., & Porzecanski, R. (2010). The Dragon in the Room: China and the Future of Latin American Industrialization. Stanford University Press.
- CEPAL. (2018). La Inversión Extranjera Directa en América Latina y el Caribe. Disponível em: https://www.cepal.org.
- World Bank. (2021). China’s Economic Rise: History, Trends, Challenges, and Implications for the United States. Disponível em: https://www.worldbank.org.
2. Documentos sobre relações China-América Latina
Professor Responsável: Víctor Gabriel Rodríguez (14 de outubro)
Justificativa
A análise de tratados, acordos bilaterais e marcos legais é fundamental para compreender a estrutura formal das relações entre a China e os países da América Latina. Esses documentos refletem os interesses mútuos e as áreas prioritárias de cooperação, como comércio, investimentos e infraestrutura.
Pontos de Análise
- Principais tratados bilaterais Brasil-China
- Acordos multilaterais CELAC – China Forum
- Declarações dos líderes chineses sobre a relação com a América Latina
Bibliografia sugerida
- Ellis, R. E. (2014). China on the Ground in Latin America: Challenges for the Chinese and Impacts on the Region. Palgrave Macmillan.
- Acordos bilaterais disponíveis no site do Ministério das Relações Exteriores da China (https://www.fmprc.gov.cn).
- Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). (2020). China-Latin America and the Caribbean: Opportunities for Trade and Investment. Disponível em: https://publications.iadb.org.
- XI JINPING, Carry forward the spirit of the war to resist US aggression and Aid Korea in the Great Historic Struggle, in: In The Governance of China IV, Beijing: Foreign Languages Press Co. Ltd., 2022.
- XI JINPING, Stay true to multilateralism and contribute to world prosperity. (nov. 2020, 12th Brics Summit). In The Governance of China IV, Beijing: Foreign Languages Press Co. Ltd., 2022.
3. Bancos de Desenvolvimento e a Cooperação China-América Latina: AIIB, Banco dos BRICS e Outros
Professores Responsáveis: Thomas Law, Víctor Rodríguez (21 de outubro)
Justificativa
Os bancos de desenvolvimento desempenham um papel crucial no financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento na América Latina. Este tema explora o papel do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), sediado em Pequim, em comparação com o Banco dos BRICS (Novo Banco de Desenvolvimento – NBD) e outras instituições financeiras internacionais. O AIIB, liderado pela China, tem expandido sua atuação global, incluindo a América Latina, oferecendo uma alternativa aos bancos tradicionais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A tendência desses bancos multilaterais de desenvolvimento é sempre ampliar-se.
Pontos de Análise
- O papel do AIIB no financiamento de infraestrutura na América Latina
- Comparação entre o AIIB e o Banco dos BRICS em termos de objetivos, estrutura e projetos financiados
- A relação entre o AIIB e os bancos regionais, como o BID e a CAF (Corporação Andina de Fomento)
- Os desafios e críticas relacionados à governança e transparência dessas instituições
Bibliografia sugerida
- AIIB. (2022). Annual Report and Financial Statements. Disponível em: https://www.aiib.org.
- Stuenkel, O. (2016). Post-Western World: How Emerging Powers Are Remaking Global Order. Polity Press.
- NBD. (2022). Annual Report. Disponível em: https://www.ndb.int.
- Gallagher, K. P., & Myers, M. (2021). China-Latin America Finance Database. Boston University Global Development Policy Center. Disponível em: https://www.bu.edu.
- CEPAL. (2020). Financiamiento para el Desarrollo en América Latina y el Caribe. Disponível em: https://www.cepal.org.
4. Relações Brasil-China: Diplomacia e Relações com a China no governo brasileiro atual
Professor Responsável: Julio Suzuki (28 de outubro)
Justificativa
As relações entre Brasil e China têm se intensificado nas últimas décadas, tornando-se um eixo estratégico tanto para a política externa brasileira quanto para a chinesa. Durante os governos do Presidente Lula (2003-2010 e 2023-), essa relação ganhou destaque, com avanços significativos nas áreas de comércio, investimentos, cooperação tecnológica e diplomacia multilateral. Este tema explora a evolução dessa parceria, com foco no papel do Presidente Lula na aproximação bilateral e no fortalecimento dos BRICS.
Pontos de Análise
- A política externa do governo Lula e a priorização das relações com a China
- O aumento do comércio bilateral e os principais setores de cooperação (agropecuária, energia, tecnologia)
- O papel do Brasil e da China nos BRICS e sua influência na governança global
- Os desafios e críticas à relação bilateral, incluindo questões ambientais, dependência comercial e assimetrias
- A retomada das relações bilaterais no terceiro mandato de Lula (2023-) e as perspectivas futuras
- A política externa de Trump e os efeitos para a aproximação chinesa
Bibliografia sugerida
- Vigevani, T., & Cepaluni, G. (2007). A Política Externa de Lula da Silva: A Estratégia da Autonomia pela Diversificação. Contexto Internacional.
- Oliveira, H. A. (2018). China-Brazil Relations: From Strategic Partnership to Global Power Shift. Journal of Latin American Studies.
- BRICS Policy Center. (2023). Relatório sobre as Relações Brasil-China no Governo Lula. Disponível em: https://www.bricspolicycenter.org.
- CEPAL. (2022). As Relações Econômicas entre Brasil e China: Comércio e Investimentos. Disponível em: https://www.cepal.org.
- Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE). (2023). Declarações Conjuntas Brasil-China. Disponível em: https://www.gov.br/mre.
5. A Geopolítica da China: Estratégias, Disputas e Soberania marítima
Professor Responsável: Julio Suzuki (4 de novembro)
Justificativa
A ascensão da China como potência global envolve uma estratégia marítima fundamental para sua segurança e projeção de poder. O controle de rotas estratégicas, como o Mar do Sul da China e o Estreito de Malaca, a militarização de ilhas artificiais e a política da “String of Pearls” refletem seu objetivo de consolidar influência no Indo-Pacífico. Questões pouco compreendidas no ocidente como as regiões de Taiwan e Hong Kong afetam diretamente sua política externa, enquanto a Rota Marítima da Seda, parte da Belt and Road Initiative (BRI), amplia sua presença na América Latina por meio de investimentos portuários.
Pontos de Análise
- A geografia estratégica da China e sua relação com o poder marítimo
- O conceito de First Island Chain e Second Island Chain
- O Mar do Sul da China e o estreito de Malaca
- A importância dos portos estratégicos e a política da ‘String of Pearls’
- Taiwan e Hong Kong: desafios de soberania e projeção de poder
- Taiwan: histórico da separação e sua posição estratégica no Indo-Pacífico
- A política de ‘Uma Só China’ e as implicações para a América Latina
- Hong Kong: transição do domínio britânico para a administração chinesa e sua posição no comércio global
- A militarização do Mar do Sul da China e suas implicações internacionais
- Aquisição de infraestrutura portuária na Argentina, Brasil e Panamá
- O papel da América Latina na estratégia global chinesa
Bibliografia sugerida
- Cheng, J. Y. S. (2019). Multilateral Approach in China’s Foreign Policy: An Assessment of the South China Sea Issue. Routledge.
- Oliveira, Vagner Belarmino de, A evolução da estratégia naval da China nos últimos 40 anos, Caderno da Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, v. 3, pp. 6-86, 2019.
6. Influência na América Latina: cultura, educação e diplomacia
Professor Responsável: Thomas Law, Victor Rodríguez (11 de novembro)
Justificativa
A China tem expandido sua influência cultural e educacional na região, promovendo o ensino do mandarim, bolsas de estudo e centros culturais. Este tema analisa o soft power como ferramenta de aproximação, destacando suas estratégias, impactos e desafios.
Pontos de Análise
- A estratégia de soft power da China na América Latina
- Comparação com o soft power de outras potências, como os Estados Unidos e a União Europeia
- Expansão dos Institutos Confúcio na América Latina: números, localização e objetivos
- O papel dos Institutos Confúcio no ensino do mandarim e na difusão da cultura chinesa
- Centros culturais e eventos de promoção da China
- A criação de centros culturais chineses na América Latina
- Eventos como o Ano da China na América Latina e festivais culturais
- A utilização de mídias sociais e plataformas digitais para promover a cultura chinesa
- Parcerias entre veículos de comunicação chineses e latino-americanos
- A atuação da CCTV e da Xinhua na região
- O sucesso da China em melhorar sua imagem: superar o ‘século da humilhação’
- A reação de outros atores globais e regionais à expansão do soft power chinês
Bibliografia sugerida
- ROUVINSKI, V., China’s soft power in Latin America, Diálogo Político, 1/2023, pp. 56-65
- UNESCO. (2021). China’s Cultural Diplomacy in Latin America. Disponível em: https://www.unesco.org.
- Hanban/Confucius Institute Headquarters. (2022). Annual Report on Confucius Institutes. Disponível em: http://www.hanban.org.
- CEPAL. (2020). La Influência Cultural de China en América Latina. Disponível em: https://www.cepal.org.
- Shambaugh, D. (2015). China’s Soft-Power Push: The Search for Respect. Foreign Affairs.
Bibliografia básica do curso:
XI JINPING, A governança da China IV, Beijing: Foreign Languages Press Co. Ltd., 2022.
RIVERO SOTO, VILLEGAS ARCE, Priscila, China y América Latina y el Caribe: relaciones multidimensionales y multinivel, Flacso, 2024 (descarga disponível na FLACSO)
LAW, Thomas, RODRÍGUEZ, Víctor, WU Wenfang (orgs), A consolidação legal das relações entre Brasil e China, SP: Ed. D’Placido/Ibrachina, 2023.