As mulheres formam quase metade da população da China: cerca de 660 milhões de habitantes. Não por acaso, Mao Zedong declarou que elas “sustentam a metade do céu” – frase que fortaleceu a proteção dos direitos femininos na sociedade chinesa depois da fundação da República Popular da China. As transformações políticas, econômicas, sociais e tecnológicas no país ao longo dos anos impulsionaram mudanças de posicionamento das mulheres em relação às suas realidades e seus objetivos de vida. Na China moderna, as mulheres têm voz ativa na sociedade. Mas nem sempre foi assim.
O conceito patriarcal sempre esteve enraizado no passado chinês. O nascimento de um homem era garantia de perpetuação da linhagem de uma família. Já a menina passaria a pertencer à família de seu marido depois do casamento e seu compromisso seria servir aos seus sogros. Isso estimulou uma predileção por crianças do sexo masculino, tradição que foi perpetuada por muitos anos e que se fortaleceu com a extinta Política do Filho Único, promulgada na década de 1970.
A primeira foto retrata uma das cenas de um casamento tradicional na China do século XIX. A segunda foto mostra a cadeira de seda que leva a noiva ao casamento. O ritual representa a transição da mulher de uma família para outra – Fotos: Thomas Child / Stephan Loewentheil Historical Photography of China Collection
As mulheres eram vistas como seres inferiores e precisavam seguir padrões de beleza muito exigentes. Um dos mais antigos é conhecido como “pés de lótus”: por volta dos 6 anos de idade, os dedos dos pés das meninas eram quebrados e dobrados em direção ao calcanhar em um formato côncavo triangular. Eram firmemente amarrados com tiras de tecido para que as fraturas cicatrizassem naquela posição. Os pés ficavam bem pequenos no formato de um botão de flor de lótus. Acreditava-se que isso era garantia de um bom casamento.
A fundação da República Popular da China estimulou o movimento de emancipação feminina, incentivando as mulheres a ingressarem no mercado de trabalho e a participarem mais ativamente da sociedade. As primeiras medidas do novo governo extinguiram práticas como o casamento forçado e o dote, e garantiram a igualdade de remuneração e de oportunidades de educação. As reformas elevaram o status social e econômico das mulheres, mudando a visão de seu papel na sociedade chinesa.
O protagonismo feminino estimulou o aparecimento de lideranças em diversas áreas da sociedade, como a Federação das Mulheres. A Lei da Igualdade de Gênero como política nacional básica e a Lei Anti Violência Doméstica são algumas das conquistas das mulheres chinesas. Sua aplicação propicia maior proteção às vítimas, além de promover a harmonia nas relações familiares. As Linhas Gerais para o Desenvolvimento das Mulheres na China exigem o aumento gradual da participação feminina na tomada de decisões e na gestão do governo e das empresas.
O contato com o ocidente e com outras pautas femininas fez com que um novo conceito de feminismo surgisse na China. Além dos temas de igualdade de gênero e dos relacionados à emancipação feminina, o movimento feminista na China exige políticas contra o assédio e a violência sexual, contra a inferiorização da mulher por meio de estereótipos, contra a pressão pelo casamento e a discriminação de mulheres solteiras depois dos 27 anos – conhecidas como “sheng nu” ou “mulheres que sobraram”, entre outras pautas.
Neste vídeo, “mulheres que sobraram” tomam coragem para se posicionar e mudar seus destinos (ative as legendas):
As mudanças na visão do papel da mulher dentro da sociedade alcançaram novos patamares ao longo dos últimos anos, e a tendência é que esse movimento acompanhe as constantes transformações do país. Na nova China conhecida por mesclar a tradição e o contemporâneo, a igualdade de gênero entre seus habitantes é pauta inevitável.