Foto: Agência Senado
“Intuição” versus “ciência”. Assim o senador mineiro Rodrigo Pacheco (DEM) define as diferenças entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na condução da crise imposta pela pandemia do novo coronavírus. Colega de partido de Mandetta – deputado federal licenciado pelo Mato Grosso do Sul -, Pacheco lamenta o fato de Bolsonaro se opor, publicamente, às orientações dadas pelo chefe da saúde nacional. “Felizmente, a tese do ministro tem vencido, mas o conflito confunde a população”, afirma. “Todos precisam estar na mesma direção no combate a pandemia. Em um momento onde a população procura orientação, o Poder Público precisa agir de forma coordenada para gerar tranquilidade ao povo e ser mais assertivo em suas ações”, analisa Thomas Law, presidente do Ibrachina.
Desde a última semana, a crise ganhou novos contornos. Também filiado ao Democratas, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, parlamentar eleito pelo Rio Grande do Sul, viu vazar uma conversa telefônica com o ex-ministro e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). Durante o diálogo, Onyx diz que, além de não falar há dois meses com Mandetta, “teria cortado a cabeça” do ministro da Saúde se estivesse no lugar de Bolsonaro. A ligação foi ouvida e divulgada pela CNN Brasil.
Embora evite comentar o conteúdo do telefonema, Pacheco reprova o raciocínio exposto pelo titular da Cidadania. “Caso seja esse, de fato, o pensamento do ministro Onyx, é equivocado, já que Mandetta cumpre bem e fielmente sua missão”, diz.
Os atritos com a China também incomodam Pacheco. O último a tecer comentários sobre o país asiático, em 4 de abril, foi o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para satirizar o sotaque local e insinuar que o governo de Xi Jinping esconde informações sobre a COVID-19. Como resposta, ouviu da embaixada chinesa que seu tuíte era “fortemente racista”.
Outra pessoa próxima ao chefe do Executivo nacional a irritar Pequim foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em meados de março. Quando o filho “03” do presidente culpou os chineses pela disseminação mundial do vírus, foi repudiado pelo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, que chegou a exigir uma retratação formal pelas declarações. “Precisamos da China para nos desenvolver economicamente”, rebate o senador.
Na visão de Pacheco há, também, uma espécie de desencontro entre as estratégias tomadas pelos governos federal, estadual e municipal. Segundo ele, como as decisões não foram tomadas de modo centralizado, a gestão da crise tem sido feita de modo “descoordenado”. Ele aproveitou para detalhar a atuação do Senado no enfrentamento à crise.