O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, reforçou os laços de cooperação e intercâmbios entre os dois países, com benefícios aos dois povos. Único país na América Latina a superar os US$ 100 bilhões no comércio com a China, o Brasil também já recebeu US$ 80 bilhões em investimentos chineses, gerando 40 mil empregos diretos, segundo o embaixador.
Em conversa online com jornalistas e integrantes de think tanks brasileiros, o diplomata destacou a confiança da China no desenvolvimento brasileiro, que projeta também para os médio e longo prazos. Tal confiança se reflete no comprometimento com a economia local. Recentemente, ele lembrou, a chinesa BYD assinou contrato para fornecimento de veículos da linha 17 do metrô em São Paulo – o processo encontra-se suspenso por decisão judicial, mas a companhia responsável pelo metrô afirma que irá recorrer.
O diplomata conversou com os brasileiros no contexto da pandemia provocada pelo coronavírus, e destacou que tanto a atual crise quanto críticas em relação à China por parte de alguns setores no Brasil são transitórias. Para ele, é preciso focar no longo prazo, no diálogo e numa construção de novos laços. Yang afirmou que a China insistirá na construção de uma diplomacia voltada a uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade. Segundo ele, a própria pandemia atual ensina que problemas e suas soluções são desafios para todos os países.
A China pós-pandemia
O embaixador disse que a China tem hoje quatro pilares para a recuperação pós pandemia: industrialização, informatização, urbanização e modernização da agricultura. Yang sustenta que a China tem confiança em sua própria economia, em que o consumo já é a principal força motriz de crescimento, representando 57% do total. Ele lembrou o fato de em 2019 a China ter ultrapassado a barreira dos US$ 10 mil de renda per capita e que o país deverá cumprir a meta de eliminação da pobreza ainda neste ano.
Segundo dados do governo chinês, ainda há 5,5 milhões de pessoas nesta condição na China. Tal meta foi confirmada neste ano pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, na abertura da Assembleia Nacional Popular, no início de maio.
Para o embaixador, a China apresenta um prognóstico positivo pois teve capacidade para neutralizar riscos provocados pela COVID-19 graças a esforços do governo em controlar a propagação do coronavírus em um período relativamente curto. Hoje, destacou Yang, mais de 99% das principais empresas já retomaram a produção e 95% dos funcionários retornaram ao trabalho.
Além destes esforços, o embaixador lembrou que, segundo o governo chinês, foi permitido um aumento de 2 trilhões de yuans no déficit orçamentário da China, além de terem sido emitidos títulos públicos que serão transferidos aos governos locais para que se estimule o consumo. Além disso, Beijing implementou regras para isenção ou redução de encargos previdenciários para as empresas, sendo estas micro, pequenas, médias ou grandes. Apenas estas medidas no âmbito fiscal devem gerar redução de 2,5 trilhões de yuans em impostos para as empresas, segundo o diplomata.
Estão ainda previstos aportes de 600 bilhões de yuans para projetos que alavanquem as redes de informação, a utilização de veículos movidos a novas energias e a grandes obras de urbanização, transporte e conservação de água.
A maior abertura da China para o comércio exterior e para investimentos estrangeiros, além da abertura de portos de livre comércio no país foram também destacados pelo diplomata como importantes para a economia chinesa e sua relação com outras nações.
Nova infraestrutura e tecnologia
O embaixador chinês destacou o papel da política de inovação como importante força motriz do crescimento da China, que emprega 2,19% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa científica, percentagem maior do que a média da União Europeia e que faz da China o país em desenvolvimento que mais investe no setor. A China também emprega o maior número de pessoas em pesquisa e desenvolvimento, obtendo hoje o maior número de patentes no mundo e o 14º lugar no índice global de inovação.
Neste ambiente e ante a crise provocada pelo novo coronavírus, a China é responsável por desenvolver novos modelos de negócios em compras online, além de diversas plataformas que permitem o trabalho remoto e via internet, algumas das quais tiveram as receitas incrementadas em até 60%. Atualmente, por dia, são criadas 20 mil novas empresas deste ecossistema na China, segundo o embaixador.
Rumo a um mundo mediado por mais tecnologia, a rede 5G será um fator importante para desenvolvimento e, neste sentido, Yang lembrou que a China já detém tecnologia para fornecer equipamentos que permitam a instalação da rede tanto chinesa quanto em outros países. “A Huawei está há 20 anos no Brasil, com segurança e qualidade, sendo respeitada e recomendada por entidades e empresas do setor”, disse o diplomata.
Segundo ele, o Brasil carece desta tecnologia e pode ser beneficiado ao implementá-la. A rede 5G permite maior velocidade na transmissão de dados, e é essencial para a automatização da indústria, além de proporcionar outros benefícios para a economia digital. Importante destacar que mesmo com equipamentos chineses ou de outros países, as operadoras de telecomunicação são as que atualmente já detêm as licenças de operação no país. A Huawei, destacada pelo embaixador, ou qualquer outra empresa que vença a licitação para os equipamentos, apenas fornece os meios para sua implantação.