Com a escassez de equipamentos de segurança médica em todo o mundo, os países que fabricam esses produtos estão correndo para mantê-los dentro de suas fronteiras. Mais de 30 de governos proibiram ou limitaram as exportações em março, segundo um novo estudo.
As proibições de exportação de suprimentos médicos críticos começaram em janeiro na Ásia, onde a pandemia global teve início. “Países como Taiwan e Coreia do Sul foram muito rápidos em proibir a exportação de máscaras”, disse Simon Evenett, professor de comércio internacional da Universidade de St. Gallen, na Suíça. Evenett é fundador do Global Trade Alert, um programa para monitorar o protecionismo global, que registrou a tendência acelerada das restrições médicas à exportação da COVID-19.
Os Governos defenderam as decisões de manter o equipamento médico em casa, argumentando que devem cuidar primeiro de seus trabalhadores, médicos e pacientes. No entanto, as regras cancelaram algumas entregas para países carentes. A certa altura, um produtor francês de máscaras assinou um contrato de exportação com o governo britânico. “O governo francês implementou o que é chamado de ‘ordem de requisição'”, disse Evenett. “Qualquer coisa produzida em uma fábrica francesa deve ser vendida ao governo francês. Então a empresa francesa teve que ligar para o serviço de saúde britânico e dizer: ‘Não podemos mais entregar esses milhões de máscaras’.”
A República Tcheca também proibiu a exportação de máscaras. Segundo Evenett, a Alemanha chegou a interceptar um carregamento de máscaras de fabricação chinesa com destino à Suíça. “Os produtos estavam sendo transportados pela Alemanha, e o governo alemão se envolveu”, disse ele. “Os suíços ficaram irritados e fizeram críticas ao embaixador alemão. A última vez que tive notícias, o carregamento ainda estava na Alemanha.”
Ao todo, Evenett descobriu que os governos colocaram 46 controles diferentes de exportação em equipamentos e máquinas de segurança relacionados ao coronavírus neste ano. Trinta e três limites foram aprovados somente em março. Há duas semanas, a União Europeia concordou com um “cessar-fogo”: permitiu a compra e venda de escudos, roupas de proteção, máscaras e luvas dentro da UE, mas não fora. “Precisamos manter na UE o equipamento de proteção que precisamos”, disse Ursula von der Leyen, chefe da Comissão Europeia, em uma mensagem de vídeo publicada em 15 de março. “Esses produtos médicos só podem ser exportados com a autorização explícita dos governos quem compõem a UE.”
European response to the #coronavirus: Protecting people‘s health and ensuring that goods flow in the internal market pic.twitter.com/9JNBzHjqvc
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) March 15, 2020
Embora não seja uma proibição total, a política significa “obstáculos e medidas extras”, disse Chad Bown, especialista em comércio e pesquisador sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional. Brown diz que o nacionalismo econômico e a acumulação não são novidade. Muitos países limitaram as exportações há uma década, quando enfrentaram escassez crítica de grãos. Para o especialista, essas decisões são compreensíveis, mas podem levar a consequências não intencionais. “Acho que é uma primeira resposta muito natural. O problema é que só leva em consideração o que está sendo feito hoje. Não leva em consideração o fato de que todo mundo poderia fazer o mesmo com quem está proibindo. Nesse caso, todos estamos ficando piores”, declarou Brown.
Em um momento de crise, a Romênia parou de exportar mangueiras para respiradores até que os fabricantes chorassem. Brown teme que mais episódios como esse possam acontecer à medida que os muros comerciais subirem e os países retaliarem. “A experiência da guerra comercial dos últimos dois anos entre os Estados Unidos e a China oferece uma lição importante sobre a rapidez com que as restrições comerciais podem aumentar depois que elas são iniciadas”, disse Brown.
“Os maiores perdedores de um mundo globalizado serão os países mais pobres que não produzem nada”, diz Evenett. “É bem possível que esses países nunca ponham as mãos em respiradores médicos sofisticados. Então o que estamos fazendo? Estamos condenando muitas pessoas a uma morte dolorosa e horrível”, finalizou.
Fonte: Marketplace