Alexandre Leal de Almeida é natural de Curitiba. O músico, que também é formado em Comércio Exterior pela Universidade Positivo do Paraná, foi para a China em 2012. Lá integrou uma banda chinesa e tornou-se produtor cultural no país oriental. Na volta escreveu um livro sobre sua experiência.
Por ter descendência indígena (kaingang & kariri), amigos da cena musical de Shangai o apelidaram de 亚马逊先生 (Senhor Amazônia). Mesmo explicando que os povos de seus ancestrais não vivem na região amazônica, considerou uma homenagem honrosa e abraçou a ideia, passando a ser conhecido como Ale Amazônia e também Amazonia, O Selvagem 亚马逊先生, nome de sua persona musical.
Em conversa com o Chinese Bridge, Ale conta que em sua infância e juventude era obcecado pela cultura popular japonesa. “Eu era otaku. À medida que fui crescendo, meu interesse migrou para os estudos antropológicos do povo, cultura e arte japonesa, e foi através desses estudos que tomei consciência da colossal influência da cultura chinesa na cultura japonesa”, lembra.
A partir dos 17 anos voltou seu olhar para o “império do centro”, como os chineses se referem a seu país. “Decidi cursar Comércio Exterior para ter uma oportunidade de possivelmente ir para lá”, conta. Durante os quatro anos de formação tornou-se amigo de um jovem chinês que estudava na mesma classe. “Em 2010, me convidou para ir visitar a China com ele e conhecer a família dele em Pequim. Ficamos um mês lá, e na volta ao Brasil, decidi que precisava morar lá”, pontua.
De volta a Curitiba, preparou-se financeiramente por dois anos para a mudança. Após a conclusão dos estudos, em 2012, foi para Shangai estudar mandarim na Jiaotong University e trabalhar com Comércio Exterior.
Após dois anos vivendo na China, conheceu um jovem que estava a procura de um baterista para integrar sua banda de rock. “Como toco bateria desde os 15 anos, decidi me candidatar e assim nasceu a 脏手指乐队 (Oh! Dirty Fingers). Durante meus 6 anos de atividade na banda, como baterista e produtor, gravamos 3 álbuns e passamos por 25 províncias das 34 do país e conquistamos reconhecimento de público e crítica”, relata Ale.
Dessa rica experiência e da amizade com os companheiros de banda, ele criou um projeto de co-produção musical sino-brasileiro chamado China Tropical. O objetivo é estreitar laços de produção entre artistas avant garde dos dois países, propiciando a criação de um novo estilo de música, batizado de sinotropicalismo.
A primeira edição ocorreu em 2019, levando os artistas cariocas Ava Rocha e Negro Leo para duas apresentações e uma semana em estúdio com os artistas shangaienses 33emybw e Gooooose. A segunda edição levou a cantora paulista Tulipa Ruiz para uma mini turnê e uma semana de residência artistas com a cantora de manchu, Yehaiyahan.
Conforme explica Ale, “o apoio da embaixada do Brasil em Pequim e o consulado geral em Shangai, foram cruciais para que esse encontros acontecessem”. Com a pandemia, o paranaense abandonou a banda e voltou para o Brasil. Escreveu um livro chamado “Mil olhos, mil braços: Relatos de um punk antropofágico na China vermelha”, que foi publicado pela editora paulistana Autonomia Literária. Este ano ele pretende reativar o projeto, só que dessa vez trazendo os artistas chineses para o Brasil, além de levar brasileiros para a China.
Nesse sentido, o produtor cultural identifica um aumento crescente do interesse dos brasileiros pela cultura chinesa em geral.
Uma das maneiras de divulgar o projeto China Tropical é através das redes sociais. “Devido à brusca interrupção que covid causou no projeto, passei a compartilhar meu conhecimento sobre música chinesa e do leste oriental do mundo. Tem sido divertido e gratificante criar uma comunidade em torno disso”, revela. Ele considera que a recepção do trabalho tem sido muito boa. “Várias pessoas entraram em contato comigo para agradecer a iniciativa e mandar sugestões.”
Conheça melhor o trabalho de Alê e do China Tropical
Instagram https://www.instagram.com/china.tropical/
Youtube https://www.youtube.com/@chinatropical5715
Rádio Sinosfera https://soundcloud.com/chinatropicalchina
Livro “Mil olhos, mil braços: relatos de um punk antropofágico na China vermelha”