A guerra comercial entre Estados Unidos e China teve início em março de 2018, quando o presidente Trump anunciou a intenção de impor tarifas de US$50 bilhões a produtos chineses e citou que o país promovia “práticas comerciais desleais”.
A retaliação veio com a tarifação em mais de 128 produtos norte-americanos, em especial a soja, um produto chave de exportação dos EUA. Desde então, a crise tem se aprofundado com movimento de todos os lados.
Convidamos o professor Roberto Dumas, Professor de Economia Internacional e Economia Chinesa do IBMEC-SP, da FIA-USP, do INSPER e da Saint Paul Business School, para comentar a crise entre os países e seus efeitos sobre o Brasil.
Ibrachina: Porque os Estados Unidos entraram em guerra comercial com a China?
Roberto Dumas: É fato que a China exporta muito mais para os Estados Unidos do que importa. Trump queria melhorar o comércio bilateral. Este fato se dá porque os Estados Unidos consomem muito mais do que poupam. Você pode zerar o déficit comercial dos Estados Unidos com a China, mas o déficit dos Estados Unidos não vai diminuir porque o americano gasta muito. Então você pode melhorar o déficit comercial com a China, mas vai piorar com outro país.
“Trump não entendeu o que significa um desequilíbrio nas contas externas. Porque ele importa mais do que exporta e isso vai trazer um crescimento global muito menor daqui pra frente”.
Ibrachina: Quem ganha e quem perde com essa disputa?
Roberto Dumas: Existe uma conversa de que a China teria muito a perder por ter um superávit comercial muito maior. Esta é uma afirmação complicada porque ao você tributar os bens importados nos Estados Unidos você atrapalha a vida do americano. Porque o americano terá de pagar o imposto do que ele está importando. O americano não é produtivo em tudo que a China faz. Tem mercadorias e partes industriais onde a China é extremamente competitiva e o americano está disposto a pagar o imposto de importação de 25%.
“O Trump está dando um tiro no pé. A situação não vai melhorar e a inflação vai bater nos Estados Unidos”.
Ibrachina: Qual é o efeito desta guerra para a economia global?
Roberto Dumas: A economia global vai crescer menos. Estamos falando de duas grandes potências em disputa. 35% de tudo que a China exporta, ela compra da Coreia do Sul e de Taiwan. Portanto, a disputa prejudica estes dois países e o Japão. A economia global é afetada, basta ver a Argentina ou a Itália na zona do Euro ou o Brexit.
“O Brasil poderá ser afetado”
Ibrachina: Quais são suas expectativas para estas tensões comerciais entre China e EUA? É possível um aprofundamento da crise?
Roberto Dumas: Acredito que a crise vai piorar. O problema não é a soja ou o aço, tampouco a balança comercial, Existe a alegação por parte dos Estados Unidos de que a China rouba e força a transferência de propriedade intelectual dos americanos para os chineses. Após a queda da União Soviética na década de 90, o líder chinês Deng Xiaoping fez um acordo com o Partido Comunista Chinês, o Conselho de Estado e o Exército de Libertação do Povo oferecendo participação em empresas chinesas em troca de apoio.
“Existe a participação do Exército de Libertação do Povo em grandes empresas como a Huawei e esta estrutura é difícil de mudar em curto prazo”.
Ibrachina: Como a guerra comercial entre China e EUA afeta o Brasil? É possível ter um saldo positivo da situação?
Roberto Dumas: Podemos ter ganhos com o aumento da exportação de soja. Os chineses pararam de comprar soja dos Estados Unidos. O embarque de soja aumentou 35% este ano no Brasil. O governo deveria negociar com a China um acordo de venda da soja ainda que a guerra comercial se resolva. Isso garantiria que os empreendedores do agronegócio que queiram começar a produção para atender o aumento de demanda, tenham alguma garantia de retorno dos seus investimentos.
*Professor Roberto Dumas é Economista, Mestre em Economia pela Universidade de Birmingham-Inglaterra e em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan-China; Professor de Economia Internacional e Economia Chinesa do IBMEC-SP, da FIA-USP, do INSPER e da Saint Paul Business School.